Derrotado, PT saudações
As eleições de 2016 e de 2018 mostraram que combustível eleitoral mais potente era o antipetismo. A deste ano, seguiu assim.
A esquerda, tirando o PSOL disputou a prefeitura de Belém e ganhou, a ala mais moderada ou oligárquica (a eleição do filho de Eduardo Campos, que era neto de Miguel Arraes, e o candidato em Maceió, ambos do PSB, entre outros), em captais nordestinas, foi derrotada. O mesmo é possível dizer do bolsonarismo, refém do centrão, parcela fisiológica do centro político e pêndulo que tem, de certa forma, garantido a governabilidade do Brasil nas últimas décadas.
Tirando isso, foi mal no pleito deste ano. O primeiro turno demonstrou isso e o segundo turno sacramentou a tendência.
Poucos saíram tão nanicos quanto o PT, que chegou ao segundo turno em apenas duas capitais, Recife e Vitória, com Marília Arraes e João Coser, ambos derrotados.
É a primeira vez, desde que as eleições para prefeitos nas capitais tornaram-se diretas, em 1985, que o PT não elegeu nenhum prefeito nas capitais brasileiras.
É provavelmente o maior fiasco da história do partido em eleições municipais.
A título de lembrança: em 2004, quando Lula ainda estava no seu primeiro mandato presidencial, o PT elegeu nove prefeitos de capitais.
A presidente do PT é Gleisi Hoffmann, mas quem manda e desmanda na legenda é Lula, que, responsável pela estratégia petista, isolou-o ainda mais, com atuação desastrada na eleição de Recife, e atuando como peso morto nas candidaturas de Manuela D’Ávila (PC do B) e de Guilherme Boulos (PSOL), duas candidaturas que eletrizaram as hostes esquerdistas.
Ressalto, porém, que a derrota do PT não significa a sua extinção, afinal os nossos partidos políticos não morrem, renascem em outros legendas ou com outros nomes.
Os partidos do período democrático entre 1946-64 (PSD, UDN, PTB e outros) ressurgiram, no início do regime autoritário de 1964, como ARENA e MDB e estes pariram, na fase da redemocratização, como PDS PMDB, PDT, PT, entre outros. Da costela do PDS nasceu o PFL, hoje DEM; o PSDB surgiu dentro do PMDB, que, com pecha de fisiológico, buscou suas origens (re)transformando-se no MDB.
Em meados da primeira década deste século, foi decretada a morte do PFL, que, após um período de reconstrução, está aí firme e forte (https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782014000100002) (http://cursos.unipampa.edu.br/cursos/cienciapolitica/files/2014/06/Do-PFL-ao-Democratas-SB.pdf), como um dos vendedores no pleito eleitoral de 2020.
O PSOL surgiu este ano (já vinha apontando para isso) como sucessor do PT e o PC do B tenta afastar-se do passado comunista que ainda carrega no nome. No entanto, nem mesmo os figurinos moderados de Guilherme Boulos (Boulosinho Paz e Amor) e de Manuela D’Ávila (Manuzinha Bela e Recatada) foram suficientes para o sucesso dos candidatos, que tiveram de carregar a desconfortável companhia do PT e sua extensa ficha corrida.
Ainda que analistas políticos gritem e escrevam sobre o descolamento entre pleitos municipais, como o deste 2019, e nacional, como foi o de 2018 e será o de 2022, parece muito claro que a largada eleitoral para a corrida presidencial começou – e 2018 reposicionou as forças políticas no xadrez político (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/11/segundo-turno-consolida-onda-cinza-dominada-por-sub-partidos-do-centrao.shtml?origin=folha). É possível dizer, hoje, que os extremismos políticos estão em xeque e, neste sentido, 2022 será um pleito parecido com 2002, quando todos correram para o centro (https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2020/11/4892142-com-derrota-do-pt-e-aliados-de-bolsonaro-eleicao-aponta-despolarizacao.html).