Trump é página definitivamente virada?
Um presidente não se reeleger nos Estados Unidos é muito raro.
Não se reeleger e entregar o controle do Congresso Nacional (Câmara e Senado) à oposição, ainda não tinha acontecido.
Donald Trump conseguiu o feito com sua insistência em não reconhecer a derrota nas eleições, alegando fraudes negadas por 61 diferentes cortes norte-americanas.
Trump custou aos republicanos o controle do Senado, levando o partido a uma improvável derrota nas duas cadeiras que restavam na Geórgia. Com isso, empurrou os Estados Unidos para a esquerda.
Sem o controle do Senado, Joe Biden teria de negociar com os Republicanos para avançar qualquer agenda de governo.
Agora, com os democratas controlando Câmara e Senado, a posição da ala esquerda do Partido Democrata se fortaleceu, reduzindo a necessidade do governo Biden de dialogar com o Partido Republicano e, eventualmente, ter um governo de conciliação no país.
Trump e seus aliados puxaram tanto e tão insistentemente a corda para a direita que acabaram por empurrar o eleitorado muito mais para a esquerda do que seria saudável numa democracia forte e estável como a norte-americana.
O que ocorreu nos Estados Unidos foi, guardadas as devidas proporções, semelhante à aversão do eleitorado ao PT no Brasil, entre 2014 e 2018, e que culminou na eleição de Jair Bolsonaro.
Agora, uma turma grande de alucinados invadiu o Capitólio, para tentar impedir a confirmação da vitória de Biden na última eleição presidencial e um pessoal aqui pelo Brasil chegou a um orgasmo coletivo com o rebuliço.
Venezuela, República das Bananas, entre outros, foram os termos usados para se referir aos Estados Unidos.
A polícia (aquela instituição que a parte da esquerda alucinada vez por outra chama de fascista) botou todo mundo para fora, foi decretado toque de recolher (para que a ordem seja inteiramente restabelecida), o Congresso confirmou a vitória de Biden sobre Trump, cumprindo ritual que se repete há mais de dois séculos, e ficaram as viúvas de sempre olhando bovinamente o teatro, sem entender que naquele país que adoramos odiar e para o qual corremos em busca de suas universidades e para passear e fazer compras, a democracia é mais do que uma palavra da moda.
É preciso aguardar para ver como todo o furdunço, iniciado com a eleição de Trump lá atrás, passando pelo seu mandato, pela corrida eleitoral do ano passado e pela invasão do Capitólio, para constatar o dano causado à mais longeva democracia do mundo, a dos Estados Unidos, e o impacto que a sucessão de eventos terá no mundo.