Afinal, houve injúria racial?
O jogador Gérson, do Flamengo, acusou no dia 20 de dezembro do ano passado (domingo) o colombiano Juan Ramírez, do Bahia, de injúria racial, durante a partida entre as duas equipes no Maracanã e que terminou 4 a 3 para o time do Rio de Janeiro.
Após o jogo, Gérson deu entrevista e disse ter escutado o jogador do Bahia dizer “Cala boca, negro”, no segundo tempo, e que o técnico Mano Menezes teria minimizado o caso.
As imagens da transmissão mostraram o jogador do Flamengo inconformado e partindo para cima do rival após de ter ouvido alguma coisa, bem como a discussão com Mano Menezes.
Mesmo Ramírez negando o fato, praticamente toda a imprensa brasileira fechou ao lado do jogador do Flamengo.
Assisti domingo e segunda (e alguns dias subsequentes) a quase todos os programas esportivos de todos os canais fechados e em todos, repito, em todos verdadeiros tribunais inquisitoriais foram montados.
A palavra de Gérson, sem amparo em imagens, áudios e em testemunhos foi suficiente para a Inquisição Midiática acusar, julgar, condenar e executar Ramírez.
Singelos e diligentes Torquemadas das redações, dos microfones e dos vídeos fizeram a festa e lançaram Ramírez na fogueira.
Num programa esportivo longevo exibido nas noites de segunda-feira, após imagens e áudios serem apresentados e ali não haver indício algum, exceto um Gérson indignado pela presumida injúria racial sofrida, à inquisição juntou-se a pieguice e alguém chegou a dizer que “se Gérson estava indignado é porque sofrera mesmo o preconceito”, numa completa inversão do bom direito, que preceitua que ao acusador cabe o ônus da prova.
Jogos de futebol são acompanhados por dezenas de câmeras de televisões e existem microfones aos borbotões espalhados nas imediações do palco. Hoje, são jogados sem público, o que facilita ainda mais a captação de áudios e a exibição de imagens do campo. Com tudo jogando a favor de Gérson, nada surgiu, repito, nas imagens e nos áudios que confirmem a sua versão. A equipe de arbitragem nada ouviu; nenhum dos jogadores, incluindo os reservas, ouviu e as comissões técnicas também não.
Em nota preliminar, o Bahia, apesar de Ramírez negar as acusações, afastou o jogador colombiano e a ele ofereceu a oportunidade de se defender. Aguardou o Flamengo apresentar elementos que confirmassem, de forma segura, a acusação feita por Gérson e o máximo que o clube do Rio de Janeiro fez foi mostrar, dia 22 de dezembro, um laudo técnico presumidamente do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) “com leitura labial da fala de Ramírez a Bruno Henrique, em que três especialistas confirmaram o ato racista do atleta do Bahia”, logo descartado pelo próprio INES, no dia 24, que diz não se manifestar sobre “questões que envolvam leitura labial” (https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/7954077/caso-gerson-instituto-nega-participacao-laudo-feito-flamengo-apurar-caso-racismo).
Além de Gérson, segundo a nova versão, Bruno Henrique também teria sido injuriado por Ramírez, naquele momento racista-mor destas paragens tropicais. Incontinenti, o Bahia contratou peritos, e laudos de cinco empresas registraram que o jogador do clube da boa terra “não chamou o atacante de ‘negro’.” (https://globoesporte.globo.com/ba/futebol/times/bahia/noticia/laudos-encomendados-pelo-bahia-apontam-que-ramirez-nao-chamou-bruno-henrique-de-seu-negro.ghtml).
Passadas mais de três semanas do ocorrido, nada foi efetivamente apresentado, a Inquisição Midiática silenciou e o caso vai caindo no esquecimento, com Gérson e mídia convenientemente silenciosos, depois de passarem alguns dias massacrando covardemente Ramírez.
É hora de Gérson ser cobrado, pois ele deve saber e se não sabe precisa aprender que quem acusa precisa apresentar elementos probatórios.
É isso ou a barbárie com pequena pincelada de verniz civilizacional, tão comum ao irresponsável, superficial e politicamente correto.