Jairinho, suas namoradas e La Boétie
Na obra Discurso para servidão voluntária, de Étienne de La Boétie afirma que é possível resistir aos discursos autoritários e à opressão sem violência, sendo possível destruir facilmente a tirania e o autoritarismo apenas e tão-somente garantindo que as pessoas possuam liberdade de escolhas e pensamento.
É isso, segundo o pensador do século XVI, que permite às pessoas perceberem a própria escravidão. Segundo ele, coisa “realmente admirável, porém comum, que deve causar mais lástima que espanto, (é) ver um milhão de homens servir miseravelmente e dobrar a cabeça sob o jugo, não que sejam obrigados a isso por uma força que imponha, mas porque obrigados ficam fascinados e por assim dizer enfeitiçados somente pelo nome de um, que não deveriam temer, pois ele é um só, nem amar, pois é desumano e cruel com todos.”
Lá Boétie é um clássico da política, mas pode perfeitamente ser utilizado para que entendamos questões da vida cotidiana, da micro-história, vejamos: uma moça foi escravizada, em São Gonçalo, Rio de Janeiro, dos 13 aos 24 anos; em São Paulo, uma senhora passou anos trabalhando, como escrava, para uma família. Outros semelhantes pipocam Brasil afora.
São casos de escravização, terríveis, repugnantes.
Aí, deparamo-nos com o caso Jairinho e namoradas. Todas, parece, eram livres. Podiam ir e vir e, no entanto, passaram anos com um homem que, segundo agora dizem, espancava-as, judiava delas e dos filhos.
Seriam casos de servidão voluntária?