Esquerda festiva (3)
Glauber Rocha, gênio do Cinema Novo e uma maiores forças criativas do cinema brasileiro, era verborrágico, polemista poderoso e língua solta.
A sua filmografia inclui clássicos como Terra em transe e Deus e o diabo na terra do sol, entre outros.
Visto pelo regime de 1964 como um ícone da esquerda e um perigoso subversivo, o cineasta baiano foi preso por dezoito dias, em 1965, durante o governo de Castello Branco.
Acusado por difamar a imagem do Brasil, os órgãos da repressão planejaram assassiná-lo, entre o final da década de 1960 e o início dos anos 1970.
Já na esteira do processo de redemocratização, Glauber Rocha foi fotografado abraçando João Figueiredo, o último general-presidente e os artistas, seguindo a cartilha empregada contra Wilson Simonal, no início da década de 1970 (e por toda a vida do cantor), “cancelaram” o baiano ícone e um dos fundadores do Cinema Novo.
No período em que Simonal era trucidado pelos purinhos das artes brasílicas, um dos núcleos da esquerda festiva, Glauber dizia, sem censura, que o general Golbery do Couto e Silva, à época Chefe da Casa Civil do Presidente Ernesto Geisel e artífice do processo de distensão, era um “gênio da raça” e os militares “representantes legítimos do povo”. Na Enciclopédia do cinema brasileiro está dito: “(…) a defesa do militarismo autoritário-nacionalista pode ser vista, em Glauber, como um tenentismo tardio, antiburguês. Sua manifestação é no sentido de deixar claro que, tendo que optar entre ‘a burguesia nacional-internacional’ e ‘o militarismo nacionalista’, sua escolha recai ‘sem possibilidade de papo’ sobre o segundo”.
Um adendo: a Enciclopédia esquece que Golbery fôra um diletante executivo da norte-americana Dow Chemical, um dos baluartes do capitalismo ianque.