Lupanaria // 2 – II – A Escola chamada Nusa
Ignácio Luiz Domingos era um preguiçoso nascido na comunidade Lambão, em Moxotó, sertão profundo de Canguçu.
Trabalhou como engraxate na rodoviária da cidade, mas, esperto, percebeu que a vida poderia lhe trazer bons cobres na zona onde as mulheres faziam a vida. Em pouco tempo, Ignácio Luiz era o mais afamado cafetão da Moxotó. Além doo cobres amealhados explorando as putas do lugar, o barbudo baixinho e de língua presa, passou a emprestar dinheiro a juros. Não demorou e era o mais rico usurário do lugar. Políticos, comerciantes, fazendeiros, funcionários públicos deviam dinheiro a seu Ignácio, que gastava o tempo percorrendo a cidade, jogando sinuca e bilhar e se servindo, como podia, do estoque de que dispunha e cobrando a quem lhe devia.
Casado com dona Maria da Silva Domingos, teve um casal de filhos, João Estevão da Silva e Maria de Lourdes da Silva Domingos.
João Estevão, estudioso e curioso, foi estudar fora, na capital do país, e nunca mais voltou a Moxotó. Sabe-se que se tornou médico rico e famoso. Maria de Lourdes, também muito cedo foi estudar em Malassombro, levando vida desregrada, até ser descoberta pelo pai que a renegou. Sem os cobres paternos, Maria de Lourdes foi fazer a vida. Em Malassombro a macharia dizia: “Já soube de Maria Lourdes? Caiu na vida”. “Já ouviu falar do que aconteceu com Maria de Lourdes?”. “Maria de Lourdes é a puta mais cara Malassombro. Quiçá a puta mais cara de Canguçu”.
Alta e muito bonita, com 1,75 m, olhos e cabelos pretos e corpo perfeito, tornou-se, por um tempo, puta requestada. Ganhou apelido. Os clientes a chamavam de Nusa.
Montou o melhor cabaré de Malassombro, mas o tempo veio lhe cobrar a vida de excessos e Nusa engordou e enfeiou. Por sorte, a decadência foi compensada pela gorda herança recebida após a morte dos pais, num trágico acidente de automóvel na rodagem que ligava Moxotó a Areias do Mel, povoado litorâneo situado a 22 km de Moxotó.
Nusa vendeu o badalado cabaré e abriu uma escola, a maior e mais bem equipada de Malassombro e o estabelecimento educativo caiu nas graças da população da elite malassombrense, constituindo-se uma casa educacional socialmente referenciada.
Diziam pela cidade que não havia diferenças entre os empreendimentos de Nusa. “Cabaré e escola são filhos da mesma placenta”, pontuou Rolando Ganso Pitanga, professor e intelectual.
A antes grande, magra, linda e afável Nusa tornou-se uma mulher grande, gorda, feia, pedante, mal-humorada e insuportável, mas ainda muito bem relacionada em Canguçu, especialmente em Malassombro. Verbas poderiam jorrar nos cofres da Escola Amigos do Saber, desde que Nusa tivesse operadores para tungar os cofres públicos. E operadores não faltariam, mesmo porque os gêmeos Odorico Gomes Dias e João de Barros Cacatua estavam de volta a Canguçu e não ficaram em Eçaraiapólis. Os meninos eram chamados de cadetes, porque o pai era grumete. E foram manobrar barcos de estripulias em Malassombro.
A Escola Amigos do Saber, da ex-empresária do sexo, precisava dos serviços socialmente referenciados dos gêmeo Odorico Dias e de João Cacatua. E os dois cadetes não decepcionaram a ditetora Nusa.