As braçadas de Nikolas

por Sérgio Trindade foi publicado em 16.jan.25

Escrevi o texto cedinho, por volta das seis da matina, e adianto que sei o, digamos, risco que corro, o menor deles – ser chamado de bolsonarista.

Como não escrevo para agradar a ninguém, exceto à minha consciência, e sou espécie de cavalo desfilando em 7 de setembro, sigo pensando e me expressando como quero.

Não discuto mais o que é e o que não é mentira (ou fake news, como querem os modernosos) no debate público brasileiro. Tornou-se mentira tudo aquilo que não é do meu lado.

O atual governo e sua tropa, na política, nas artes e na mídia, acusam de disseminadores de mentiras todos aqueles que se aventuram a dizer coisas com as quais eles não concordam. Esquecem, convenientemente, que narrativas deslocadas da realidade e mentiras sempre foram armas fartamente utilizadas na política e, para confirmar o que digo, vou citar algumas passagens de nossa história recente, todas vinculadas aos atuais defensores da moral política ilibada.

Em 1994, Lula e o PT chamaram o Plano Real de fraude eleitoral do governo Itamar Franco para beneficiar o candidato governista à Presidência da República Fernando Henrique Cardoso, por sinal adversário de Lula e vencedor da peleja no primeiro turno.

Entre 2003 e 2004, Lula e o PT disseram que receberam herança maldita do governo Fernando Henrique., como se estivessem dirigindo um país desgovernado, tal qual o herdado por Itamar Franco em 1992. Quem é minimamente honesto do ponto de vista intelectual sabe que Lula e o PT mentiam.

Em 2014, Dilma e o PT disseram, durante a campanha presidencial, que Marina Silva ia tirar a comida dos pobres. A mentira tinha um motivo. Morto Eduardo Campos, candidato do PSB aa Palácio do Planalto, Marina Silva, sua vice, assumiu a titularidade e a marketing petista resolveu destroçá-la, pois a viam como ameaça real às pretensões reeleitorais de Dilma.

Os três exemplos acima são de mentiras elaboradas e divulgadas por quem acusa hoje a oposição de difundir mentiras. Repito: não entro no mérito do que não são mentiras ditas pela oposição e pela situação.

Nos últimos dez dias o governo Lula levou bordoadas de todos os lados, porque anunciou medidas, via Receita Federal, para monitorar o Pix. A pancada mais forte ocorreu quando um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira viralizou – e chegou a ser visualizado por mais de 275 milhões de pessoas, escancarando, de vez, que o governo Lula não tem credibilidade.

O caso é grave não pelo estrago causado pela narrativa do deputado mineiro, mas porque demonstra que o grau de desconfiança da população com o governo federal atingiu índice alarmante. E confiança, meus três ou quatro eleitores, é capital importantíssimo em política e, principalmente, em economia. A falha não é, reforço, na estratégia de comunicação, mas na falta de credibilidade do governo.

Como os agentes econômicos não mais creem ou creem pouco no governo Lula, qualquer notícia, real ou mentirosa, qualquer argumento, forte ou fraco, mexe negativamente com as expectativas da população. Os operadores bolsonaristas – e Nikolas Ferreira é um dos mais eficientes operadores do bolsonarismo – perceberam e passaram a fustigar incessantemente os flancos da cidadela governista. Resultado, Lula e sua tropa estão nas cordas, tontos, baqueados.

Só para efeito de comparação: o vídeo de Nikolas foi visto, em pouco mais de 24 horas, por mais de 275 milhões de pessoas, enquanto um vídeo de Lula produzido pelo Palácio do Planalto sobre o mesmo assunto foi visto por um décimo disso.

Lula e sua turma não entenderam, e a nomeação de Sidônio Palmeira para a Secretaria de Comunicação é indicativa disso, que a batalha não é só no campo da comunicação, mas no campo moral. Não são as mentiras da oposição que massacram o governo, mas as meias verdades – e uma meia verdade é uma mentira – produzidas pelo próprio governo que minam a comunicação.

Ao governo resta juntar os cacos e tentar se refundar. Em novas bases, porque as antigas foram para as cucuaias.

A historinha de fake news adversárias é conto de carochinha. O passado de Lula e do PT, na área, não os recomendam.

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