Cinco gols e uma canção para a bola
Não foi uma sinfonia, está longe, muito longe disso, mas o futebol da seleção brasileira trouxe um pouco de poesia. O Brasil venceu a Coreia do Sul por 5 a 0. E o que é mais raro, venceu com leveza, como quem dança sem pisar no chão.
Há vitórias que são contábeis, e há outras, como esta, que são poéticas: não bastou ao escrete canarinho marcar cinco vezes; era preciso encantar, soprar música na bola, fazer dela uma flauta de vento.
Há muito o torcedor andava – e ainda, creio, anda – desconfiado. Andávamos todos órfãos daquele futebol que sabe rir de si mesmo, que dribla o relógio, que joga por puro prazer. Pois hoje o Brasil jogou como quem reencontra um velho amor num fim de tarde. O toque curto, a triangulação, a troca de olhares antes do passe, tudo parecia conspirar para uma tarde de reconciliação entre a bola e o coração do povo, e moços de chuteiras faiscantes e cabelos de invenção jogaram como se o Maracanã estivesse dentro deles, mesmo que o jogo fosse longe, noutras geografias.
O primeiro gol veio como promessa de espetáculo; o segundo, como confirmação de que o Brasil ainda sabe sorrir dentro de campo. Depois, vieram mais três, cada um mais bonito, mais leve, mais brasileiro. Ao final, cinco a zero. O placar, no entanto, é o que menos importa quando a bola se torna metáfora da alegria.
A Coreia lutou, correu, suou. Mas enfrentou algo que vai além da tática: enfrentou o espírito do jogo, aquele que nasce na várzea, na praia, no asfalto quente das periferias. O Brasil demonstrou que ainda pode ser uma usina de lirismo, jogando com a doçura de quem pede desculpas antes de driblar.

Imagem feita com auxilio de IA
O apito final soou como fecho de sinfonia. E os torcedores, lá e cá, sabiam: não foi apenas um jogo, foi um reencontro com a esperança. Porque quando o Brasil joga assim – com alegria, com arte, com alma – parece que o país inteiro se perdoa um pouco.
Sim, ganhamos por 5 a 0. Mas o que realmente ganhamos foi o prazer de lembrar que o futebol, quando é jogado com o coração, não precisa de tradução. É pura poesia, dessas que se escreve com os pés – e que o tempo, generoso, nunca apaga.