O Seridó, a ciência do poder e a esfinge
O palco político potiguar, arena onde a surpresa é uma constante, oferece agora o enredo de Milena Galvão, vice-prefeita de Currais Novos e irmã de Ezequiel Ferreira, presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte (ALRN).
O que se murmura nos bastidores do Seridó, especialmente no bunker da vice-prefeita, segundo soube pelas andanças pelo interior do estado, não é fofoca, mas a premissa de um movimento tectonicamente relevante, a saber, sua potencial indicação pelas fraternas mãos do presidente da ALRN para compor, em 2026, a chapa de Alysson Bezerra, arranjo que, na frieza da ciência política, não seria um mero lance de xadrez, mas a reconfiguração dos eixos de poder que sustentam o MDB e o PSDB no Rio Grande do Norte e repercutem em praticamente todas as legendas partidárias.

Imagem feita com auxílio de IA
A especulação ganha corpo na mesma proporção em que o vice-governador Walter Alves e a governadora Fátima Bezerra, líderes do MDB e PT, respectivamente, estanham-se e ensaiam um rompimento. A entrada de Milena na composição com o prefeito de Mossoró, é, antes de tudo, uma jogada perfeita para Alysson, que busca mais capilaridade, pois Milena agregaria à chapa do jovem alcaide oestano uma base forte de prefeitos e deputados estaduais.
A tensão recente entre Walter Alves e a governadora, formalmente motivada pela imensa dívida estadual e um empréstimo adiado, trivialidade para quem observa o jogo de longe, é o sintoma visível de um fenômeno mais profundo na teoria de coalizões, a saber, quando o custo de oportunidade de permanecer aliado começa a superar o benefício marginal da parceria. Para o MDB, a ausência de um projeto majoritário próprio o força a orbitar, e a aliança com Alysson, via Milena, oferece um porto seguro que elevaria ainda mais suas chances de vitória.
O centro da questão reside na dinâmica de patrocínio institucional. Ezequiel Ferreira, ao “entregar” Milena à chapa híbrida (meio oposicionista, meio governista), consolida sua posição como o maior corretor de poder no Legislativo, garantindo a sobrevivência política familiar e reforçando a autonomia da ALRN frente ao Executivo. Ele se move como um ator racional em um sistema de pesos e contrapesos no Legislativo, frequentemente subestimado, e seria o verdadeiro balizador das alianças.
Milena Galvão, cautelosa, nega a confirmação, mas não a articulação, seguindo o manual básico do político profissional, o de manter a porta aberta até que o custo da negação se torne maior que o custo da admissão, afinal a concretização desta chapa, que uniria o que há de mais sólido na direita e no centro do estado, tem um efeito colateral devastador para o campo petista, porquanto a entrada de Milena na disputa exigir reavaliação da viabilidade do campo governista, que hoje tem Cadu Xavier como nome ao governo e Fátima Bezerra ao Senado.
Na ciência do voto, a dispersão de forças no centro-direita diminuiria, enquanto a esquerda seria forçada a reagrupar suas tropas em torno de uma candidatura que pode ter seu teto de crescimento drasticamente reduzido.
O arranjo Alysson-Milena é o nome que se dá à realpolitik, uma costura de interesses na qual a lealdade partidária é sempre secundária à conveniência eleitoral e à sobrevivência do capital político.