O presidente João Figueiredo
Sempre que surgiam críticas à sua limitação intelectual, o presidente Figueiredo dizia ser um ás em Matemática, disciplina que aterroriza 8 em cada 10 alunos nos colégios.
Dentro os presidentes que governaram o Brasil nos 21 anos do regime instaurado em 1964, Figueiredo é, possivelmente, o mais troçado.
Filho de um militar extremamente respeitado, Euclides Figueiredo, e irmão do dramaturgo Guilherme Figueiredo, João Baptista de Oliveira Figueiredo governou o Brasil de 1979 a 1985.
Sem dispor do AI-5 para perseguir oposicionistas, seguiu a pauta dada pelo seu antecessor, Ernesto Geisel, o responsável pelo início do processo de abertura “lenta, gradual e segura”.
Figueiredo sempre demonstrou pouca paciência para lidar com uma imprensa livre e com a espontaneidade e a informalidade do povo brasileiro. Dizia ser “cada vez mais militar” e se esforçar muito “para ser político”. Numa entrevista arrematou: “O que gosto mesmo é de clarim e de quartel”.
Oficial de cavalaria, afirmou que gostava “mais do cheiro de cavalo ao cheiro do povo”.
Conta-se que, certa feita, em viagem à Argentina, Figueiredo foi presenteado com dois cavalos pelo presidente daquele país, o general Leopoldo Galtieri.
Admirado com a beleza dos animais, o nosso general-presidente pediu para ser fotografado entre eles e enviou a fotografia a um familiar com o bilhete que segue: “Fulano(a), o presidente Galtieri, muito gentil, deu-me de presente dois lindos cavalos. Fiz questão de ser fotografado com eles. Envio a foto para você apreciar. Assinado: João Baptista de Oliveira Figueiredo. PS.: o do meio sou eu”.
Era tão sem estilo que o seu irmão mais velho Guilherme Figueiredo era-lhe reticente e lhe pedia que não o fizesse passar vergonha com sua inconveniência em eventos sociais.
Certa feita, quando já não dava mais expediente no Palácio do Planalto, Figueiredo saiu com a pérola: “Mulher deveria ser como pasta de dentes, daquelas que a gente usa em viagens internacionais. Quem não gosta pode jogar o tubo fora. Quem gosta pede outro”.
O presidente Figueiredo governou o Brasil até 15 de março de 1985 e deveria ser substituído pelo ex-governador de Minas Gerais Tancredo de Almeida Neves, que, horas antes da posse, passou mal, foi internado, fez várias cirurgias e faleceu em 21 de abril do mesmo ano.
A morte de Tancredo fez o Brasil amargar cinco anos de José Sarney, capacho do regime ao qual agora se opunha e que se encerrava.
Por Sérgio Trindade