Professor Assis: a docência como missão

por Sérgio Trindade foi publicado em 18.maio.19

Vivíamos a era da reserva de mercado da informática erguida pelos generais-presidentes e mantida posteriormente pelo donatário do Maranhão, José Sarney, que assumira o governo após a agonia e morte de Tancredo Neves e eu, estudante da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN), ali pelos anos 1980, vi um cartaz pregado num mural avisando sobre a abertura de um curso de informática. A área de computação era algo, para mim, de ficção científica. Coisa dos Jetsons, de Guerra na Estrelas

O projeto de fazer o curso rápido de informática na então ETFRN era capitaneado pelo professor Francisco Assis Oliveira, um professor desbravador, um missionário da sala de aula, um espírito empreendedor da docência, um mestre na acepção da palavra. Em suma: Professor. Com “P”.

Assis foi possivelmente na ETFRN-CEFET-IFRN, junto com o professor João Maria Palhano, de quem fui aluno, aquele que melhor envergou as vestes docentes.

Não tive a honra de estudar com Assis. Nem mesmo o curso a que me refiro acima consegui fazer, pois as inscrições já estavam encerradas quando eu busquei o setor responsável. Ainda tentei me esgueirar, como penetra, mas fui logo identificado e excluído da turma. No entanto, mesmo não tendo sido seu aluno, sei por depoimentos de quem foi e ouço referências de quem não foi, como eu, e que gostaria de ter sido, que o põem nos degraus mais altos da instituição a qual ele tão bem serviu.

Homem de alma superior, de espírito leve e de humor recatado, Assis foi um desbravador na ETFRN, um sagaz no CEFET e um crítico ponderado no IFRN. A sua definição sobre o nosso ensino médio integrado é sublime: “Nós não fazemos ensino técnico integrado, e sim ensino técnico ajuntado”. Já ouvi piruetas retóricas e perorações teóricas e acadêmicas em série sobre o tema e nenhuma consegue definir com a precisão dada por ele.

Quase sempre envolvido diretamente com a docência, abandonou-a poucas vezes. Numa delas, sentou na cadeira de Diretor Geral do campus Nova Cruz. Lembro-me bem de ouvi-lo dizer, numa conversa informal nos corredores do campus Natal Central, que manteria distância de qualquer assento de gestor.

Ali, naquele momento, voltou a envergar, da forma elegante como sempre o fez, as vestes professorais que o elevam à categoria de um dos ases da Escola mais tradicional do Rio Grande do Norte, donde saiu recentemente para o descanso merecido e para se dedicar integralmente, certamente da maneira sublime como sempre o fez, à família.

Uma pena Assis ter se desembaraçado das roupas de gestor, pois homem dotado de espírito público superior (aquilo que chamamos de pessoa com visão e prática republicanas), com sobeja competência e discernimento extremo, teria o perfil adequado para dirigir os rumos institucionais do IFRN em momento desafiador como o que estamos vivendo.

Sem tê-lo por perto, resta-nos lembrá-lo e reverenciá-lo.

 

Por Sérgio Trindade

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