A queda relativa
A última pesquisa feita pelo Datafolha põe a avaliação positiva do Presidente Lula em 24%, número compatível com o pior cenário de 2005, quando o Mensalão ameaçava tragar o mandato do petista e inviabilizar a sua reeleição, no ano seguinte (https://gauchazh.clicrbs.com.br/seguranca/noticia/2016/05/o-saldo-do-pt-13-anos-depois-a-heranca-politica-5798519.html).
A oposição liderada pelo PSDB e pelo PFL (atual União Brasil) não quis levantar a tese do impeachment, aguardando Lula sangrar e chegar exangue durante o pleito. Pagou para ver e o resultado todos sabemos, Lula bateu o tucano Geraldo Alckmin, atualmente seu Vice-Presidente, no segundo turno da eleição presidencial (https://veja.abril.com.br/videos/em-pauta/debate-do-mensalao-a-incompetencia-da-oposicao).
Hoje os grupos oposicionistas, se conseguiram aprender com a história e pretendem inviabilizar um quarto mandato de Lula, não podem cochilar. Somente a vigilância e a atuação firme, célere e constante poderá impedir Lula de subir novamente a rampa do Palácio do Planalto.
Lula não tem e nunca teve projeto algum para o país. O seu projeto era e é pessoal. De poder pelo poder. E só.
Lula, um político extremamente intuitivo, vive de palanque e só pensa em Lula. E nas romarias de artistas, intelectuais e pelegos bem pagos a eventos de beija-mão para agradá-lo. Lula pensa no seu lugar na história e, portanto, o que dirão as suas biografias escritas por amigos do peito ou financiadas por gordas e generosas somas de dinheiro, bem como nas companheiras análises acadêmicas elaboradas por acadêmicos companheiros.
Mas só isso não rende votos suficientes para lhe garantir uma eleição presidencial. Então, Lula gasta o gogó com bazófias Brasil afora e com programas assistencialistas erguidos há mais de duas décadas pelo seu antecessor Fernando Henrique e mantidos e aperfeiçoados por ele – e o que era para ser uma política de passagem tornou-se, e não se sabe como sair dela, permanente. Os caraminguás garantem a fidelidade do povaréu refém da pretensa bonomia estatal.
Tudo funcionava sem maiores sobressaltos, por isso até críticos (não muito convictos) como Jair Bolsonaro mantiveram a estrutura praticamente intocada.
O problema é que o mundo mudou e leva o Brasil de arrasto.
A inserção do Brasil no mercado global, a velocidade dos transportes e comunicações demonstra de maneira cabal que as carcomidas estruturas políticas e econômicas do Brasil não dão mais conta da velocidade do mundo. Por isso, a falta de projeto de Lula, francamente exposta na campanha presidencial de 2022, põe o governo de quatro.
Eleito, Lula quis montar seu governo num tripé: restauração da democracia, retomada da economia e responsabilidade ambiental. Nenhum dos três pés, depois de dois anos de mandato, está firme. E a situação crítica deixa o governo mais perdido do que cachorro caído de caminhão de mudança.
Os problemas da economia são cruciais para o baque de Lula 3, mas nem de longe são os únicos. O governo enfrenta dificuldades para se comunicar com os jovens, com os evangélicos e com aqueles que não o veem com bons olhos. E, pior, mesmo que se comunicasse muito bem não tem muito o que mostrar. Mais, nada do prometeu entregar conseguiu até o momento. Nem mesmo, sejamos condescendentes com Lula, as simbólicas picanha e cerveja.
Bem mais articulada e ativa do que era a oposição tucana e pefelista na primeira metade dos anos 2000, os atuais grupos oposicionistas perceberam qual é, de fato, a fragilidade do governo e abandonaram a pauta de costumes e se concentram, cada mais, nas questões de ordem econômica.
Sem saber lidar com a situação, o governo não apenas patina na íngreme subida que tinha e tem pela frente – e começa a deslizar em direção do abismo.
O abismo, porém, está distante. E até lá sofre o governo e sofremos todos.