Brasil, berço esplêndido e seboso

por Sérgio Trindade foi publicado em 05.maio.25

Os fatos, meus três ou quatro leitores, são teimosos.

Eles batem na porta da verdade com a insistência e a paciência de um agiota veterano. E a verdade, coitada, esconde-se atrás da cortina ou embaixo do tapete da sala, torcendo para que ninguém sinta o seu cheiro.

Pois bem, a situação política do Presidente Lula é, hoje, bastante difícil. Mas calma! Difícil, sim. Definitiva, nunca. Neste país febrilmente tropical, onde não há pecado, até a ética caduca em 48 horas. Tudo é transitório, até mesmo o escândalo e o vexame.

Lula está acuado. Daqui a um ano, talvez esteja triunfante, brindando com espumante numa inauguração de ponte em cidade que não tem rio.

A política brasileira é como um dramalhão mexicano, no qual o vilão morre num capítulo e ressuscita no outro, usando o bigode do irmão gêmeo.

Nesse exato momento, porém, ninguém, absolutamente ninguém quer ocupar aquele púlpito dos alucinados e dos desesperados chamado ministério, como se o governo tivesse se tornado um leprosário político.

Simone Tebet, um dia outrora musa do impeachment de Dilma e depois musa tecnocrática do Planejamento, vê assessores pulando do navio com a elegância de ratos bem-educados, o PP e o União Brasil, dois partidos que já foram tudo e o contrário de tudo, agora se olham no espelho e ensaiam um discurso oposicionista, o PSDB, esse espectro que ainda ronda os corredores do Congresso, pretende ressuscitar acoplado ao Podemos – um Frankenstein de terno mal cortado e jargão moralista, enquanto o governo pula desgovernado como milho em pipoqueira e o escândalo do INSS – essa ode à delinquência previdenciária – cresce como criança malcriada: gritando, chutando, babando verdades inconvenientes. A cada semana, descobre-se mais um desvio e vários deboches.

E o governo? Ah, o governo… repousa em berço esplêndido. Como diz aquele hino parnasiano que ninguém leva mais a sério, mas todo mundo canta com a mão no peito. Dorme como se nada de errado estivesse ocorrendo. O ministro do escândalo foi demitido, entretanto em seu lugar foi nomeado o número dois – aquele mesmo que, segundo a lógica da santidade petista, vivia no ministério como se morasse no Pico da Neblina, alheio aos crimes e às planilhas do purgatório.

Mas leiam e ouçam – e leiam e ouçam com horror: o tal Sindinap, entidade que faturou como madame em bordel francês com a farra dos aposentados, tem como vice-presidente o irmão de Lula. Sim, Frei Chico, aquele mesmo de passado sindical e presente conveniente. A Contag, sempre abraçada com o PT como casal em álbum de formatura, também ganhou o seu. E o Cebap, essa sigla que soa como nome de remédio para doença venérea, tem como advogado o próprio filho do ministro da Justiça – Ricardo Lewandowski, esse eremita togado que agora quer nos convencer de que tudo isso foi culpa do governo anterior, de Marte, ou talvez do Diabo.

Ora, ora… Quando Flávio Bolsonaro mergulhava em rachadinhas como quem nadava em piscina de dólares e euros, Lula, o PT e seus satélites rasgavam as vestes em nome da moral. Exigiam punição com olhos de madre superiora traída. Entretanto, quando o rachador atendia pelo nome de André Janones, a régua mudou, a indignação se recolheu, e o nobre deputado Guilherme Boulos, aquele herdeiro do revolucionarismo gourmet, assumiu o papel de advogado de porta de cadeia – desses que batem no peito para defender o cliente, mas preferem não o conhecer muito bem.

E assim, a lama desce pelos canos do governo, escorre pelas frestas, transborda das reuniões. Lama fétida e sebosa. E ainda assim, Lula e os seus caminham por cima dela como se estivessem sobre o tapete vermelho dos homenageados por belas obras e serviços prestados à Pátria. Afinal, neste Brasil, ninguém é culpado. Todos são vítimas de um sistema que só existe para ser acusado quando convém. E o povo, herói anônimo e maltratado, assiste tudo com a resignação de quem já viu esse filme – e sabe que o final, invariavelmente, é ruim.

Moral da história?

Não há moral. Só encenação. O Brasil é um teatro sujo, onde os atores fazem de conta que encenam peça nobre, a plateia finge que a peça é divina e o cenário de lama, sangue e conveniência nunca muda.

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