Já me aborreci, me zanguei…
Fui eleitor de Marina Silva. Sim, confesso – e não nego a nódoa. Votei nela em 2014, quando, feito Madalena arrependida, assumiu o papel de substituta póstuma de Eduardo Campos, morto em acidente de avião. Repeti o gesto em 2018, talvez movido por aquele otimismo patológico que faz o brasileiro insistir na quimera.
Mas, dali em diante, não! Nunca mais! Jurei, com o fervor de quem roga uma praga: Marina não terá um voto sequer deste que ora escreve fala – nem se me implorar de joelhos, nem se ressuscitar das cinzas como uma Fênix mambembe.
E por quê? Simples: falta-lhe aquilo que distingue os homens e as mulheres que andam de cabeça erguida – amor-próprio. Marina, a mesma que foi expurgada, quase escorraçada do governo Lula na aurora deste século, hoje rasteja, submissa, de volta ao seio que a repudiou. Como aceitar tamanha indignidade? Como compactuar com tamanha anemia moral?
E mais, depois do massacre – sim, massacre! – que sofreu das falanges dilmistas em 2014, comandadas por João Patinhas, quando a campanha à reeleição do Poste de Lula não lhe poupou sequer o fígado, Marina deveria ter aprendido. Mas não: reincidiu, voltou ao palco da humilhação como quem se oferece, sorrindo, ao carrasco.
Não deveria apoiar Bolsonaro, claro que não – a história há de julgá-lo. Tampouco, porém, deveria apoiar Lula. Aliás, poderia até, na aritmética infame do segundo turno, votar nele – quem nunca? – mas integrar o ministério… ah, isso não! Isso é de um servilismo obsceno, de uma viralatismo extremo.
E agora, vejam, nesta semana, Marina foi achincalhada no Senado. Escorraçada, cuspida, vilipendiada – e a base do governo, sua suposta base, assistiu tudo em silêncio, como quem assiste ao apedrejamento da adúltera sem lançar sequer uma pedrinha. Covardes! Sim, covardes!
Marina está sendo fritada de novo – fritada como peixe ordinário na feira, em óleo dormindo e viciado, como já o fora há bem mais de uma década. Descobriu, enfim, a lição amarga que tantos ignoram: voltar com o ex é, sempre, o triunfo miserável da esperança sobre a experiência.
Parafraseando Churchill, ela teve a escolha entre a dignidade e a humilhação. Escolheu – e escolheu mal! – a humilhação. E foi, como sempre, tratada sem honra, como quem merece o desprezo e não o respeito.
Em tempo: não escrevo sobre a mulher, mas sobre a pessoa pública.