Passagens de ônibus e eventos climáticos extremos
Ontem (17/11), por volta das 7h, estudantes fecharam a BR-101 sentido Centro, na altura do conjunto Mirassol, para protestarem contra o aumento das passagens dos ônibus urbanos para R$ 4,50, válido desde a última segunda-feira (13).
Movimentações do tipo são comuns por todo o Brasil há pelo menos três ou quatro décadas.
Aqui em Natal, quando eu era estudante secundarista, na primeira metade dos anos 1980, já ocorriam, timidamente. Aumentaram em número, intensidade e volume nos anos 1990 e ao longo deste século.
O protesto dos estudantes é legítimo, afinal é caro desembolsar R$ 4,50 pelo mau serviço prestado por empresas de ônibus. No entanto, os estudantes deveriam aprender que o exercício de um direito, o de protestar, não pode ocorrer atropelando os direitos dos demais cidadãos de Natal, que tiveram bloqueada uma das principais artérias urbanas.
Há quem diga que protesto bom é aquele sentido pela população, a qual vai cobrar das autoridades competentes alguma ação para resolver o problema. Se é assim, por que o serviço continua de péssima qualidade mesmo com todo o movimento gerado há pelo menos três ou quadro décadas, com maior envergadura há pelo menos duas décadas?
Uma possível resposta: o cidadão que vê o seu direito de ir e vir bloqueado não se põe favorável ao ato de fechamento da via, ainda que seja simpático às demandas dos que protestam.
E se um ato do tipo puser em risco a vida de alguém, quem responderá por isso? Por que fica toda a população na dependência de praticamente um único modal de transporte coletivo e por que estudantes e todos que dependem de transporte coletivo não se unem, por meio de entidades representativas, e pressionam permanentemente as autoridades municipais em busca de soluções para o nó górdio do transporte público, montando barraca em frente à Prefeitura, à Câmara de Vereadores e à STTU?
Pareceu-me um protesto político, sem interesse maior no problema, como foram muitos dos que ocorreram no passado, os quais nunca seguiram em frente visando a resolver a questão, o ineficiente, para não dizer péssimo, serviço prestado aos natalenses.
Cereja no bolo do protesto de ontem: os estudantes universitários resolveram tocar fogo em pneus utilizados para interditar a BR-101.
São os mesmos que dizem zelar pelo patrimônio público e para demonstrar o zelo que têm depredam o patrimônio público? São os mesmos que participam de uma palestra e saem convencidos e ansiosos por convencer que estamos passando por eventos climáticos extremos e depois dão sua contribuição à degradação do clima queimando borracha numa via pública?
A pantomima encenada na manhã de 17 de novembro de 2023 tira a máscara de quem, no espaço público, usa o discurso de defesa do bem comum em benefício de interesses ocultos, quando não inconfessáveis.
A via só foi liberada por volta das 8h30min.