José Quitério, o Manteigueiro

por Sérgio Trindade foi publicado em 27.jul.25

Havia um tempo em que a hiena era só bicho. Depois veio José Quitério Sanhaçu Manteigueiro e confundiu zoologia com administração pública.

Tinha o olhar, o riso e o comportamento da hiena: esperava os outros caírem para comer a carniça.

Professor, ao menos no contracheque, Quitério se especializou em três áreas: enrolação refinada, bajulação militante e ócio produtivo. Era o sofá do serviço público: sempre presente, raramente útil.

Ex-alunos diziam:

– Aula com ele era vaga com presença.

Os colegas completavam:

– Entrava em sala só pra conversar miolo de pote.

Ninguém quis ser diretor da escola. Ele quis. E manteve a rotina: fazer nada, só que agora com cargo e ar-condicionado.

Imagem feita com auxílio de IA

Herdeiro espiritual de Karai Guaçu, o Profeta da Luz Escura, Manteigueiro preferiu a via mais prática: fundou empresa. Começou com passes de ônibus, evoluiu para passagens aéreas, sempre com comissão. Chamava isso de “empreendedorismo”; os outros, de “atravessador com crachá”.

No serviço público, era um ninja da inutilidade. Circulava por corredores, rindo sozinho, sempre com uma xícara de café e um comentário venenoso. Sabia onde estava o poder e quem o segurava.

Durante a queda do prefeito eleito, Arnaldo Elói, Manteigueiro floresceu.

Arnaldo caiu antes da posse. José Eunápio, homem de confiança do deputado Elias Rodopião, assumiu. Com ele, chegou a tropa do bem: democráticos progressistas com fígado sensível e presunção de santidade. Discordar deles era crime de lesa-virtude.

Nesse cenário, José Quitério virou censor, espião, agente da patrulha ideológica. Espalhava boatos, difamava colegas e ria com sua clássica risada sabuja, que soava como aviso: “Cuidado. Eu estou por perto.”

– José Quitério posa de bobo da corte – disse o professor Renato Galvão.

– Não é bobo. Os bobos eram inteligentes. Ele é só bajulador com cara de pastel –respondeu outro.

Quitério era um palerma operante. Covarde funcional. Fora da patota, calado. Dentro, justiceiro de WhatsApp.

Um colega tentou classificá-lo:

– Está entre os delinquentes (os que tramam), os bonecos (os que obedecem) e os atoleimados (os que batem palma).

Quitério transitava pelos três, conforme o ambiente.

Ao seu redor, orbitava um zoológico humano: Ézio Bergantim, O Palerma, Messalina Bambu, A  Loba do Bosque, e Elinaldo Canalha, O Confuso. Todos com acesso ao gabinete. Nenhum com acesso à vergonha.

Manteigueiro sorria, adulava, simulava. Era uma usina de nada com aparência de tudo. Bufão sem talento. Mestre da camuflagem funcional. Fugindo do trabalho como quem foge de convocação militar.

A última vez que o viram, estava de pijama na sala da presidência digitando um ofício.

– É urgente? – perguntaram.

– Não sei. Mas estou ocupado. Isso que importa.

E riu. Como hiena. Porque era.

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