O mau caminho

por Sérgio Trindade foi publicado em 11.dez.24

Guido Mantega ressurgiu dizendo que as contas públicas estão em ordem. Em entrevista à Folha de São Paulo (domingo, 08/12) disse o ex-czar da economia por quase uma década que o governo Lula acertou no pacote de gastos e na isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Para Mantega, a pretensão do era “desindexar e isso não ocorreu. O presidente Lula não pode ficar só fazendo os caprichos do mercado, porque, na verdade, o que aumenta a dívida pública são os juros. Houve muita conversa dizendo que as contas públicas estão desequilibradas, que há irresponsabilidade fiscal, o que não existe. O mercado sempre vai achar que é insuficiente, porque essa é uma tática. Por quê? É uma maneira de o mercado manter o governo nas cordas. Imaginemos que o Ministério da Fazenda foi otimista e não consiga economizar esses R$ 30 bilhões [em 2025], ele vai cortar, fazer um contingenciamento, e cumprirá a meta. A mesma coisa vai acontecer em 2026.

O ex-ministro Guido Mantega pode, como brasileiro livre, dizer o que quiser sobre economia. Pode até mesmo ser um negacionista (perdoem-me pelo uso do termo, é só pra contrariar). O estranho é ler e ouvir gente em postos-chave que ainda o levem a sério. Aqui é bom fazer um adendo: ele não foi o único responsável pelo desastre econômico do primeiro mandato de Dilma Rousseff, quando ele era o ministro da Fazenda. A então Presidente da República também deve ser responsabilizada, afinal foi a guardiã (ainda que em semente a coisa estivesse ocorrendo já no segundo mandato de Lula) de um projeto econômico aleijado, o qual promoveu, ao mesmo tempo, inflação e recessão – a inflação em 2015 foi de 10,67% e a taxa de desemprego era de 10%, quando Dilma foi impedida.

Mantega, ministro da Fazenda de 2006 a 2015, fez a economia brasileira derreter como manteiga submetida ao calor, com queda de 0,6% PIB, baixa demanda no comércio internacional e sérios problemas conjunturais internos, com reflexos no aumento do custo de energia elétrica. Para Mantega, não havia como “falar em recessão. Recessão é uma parada prolongada, como ocorreu com os países europeus e ocorre quando há desemprego”. Por birra, Dilma não o demitiu e o ministro deixou, para usar expressão cara ao PT, uma herança maldita fruto de erros e apostas utópicas: crescimento zero, metas de inflação estouradas, balança comercial negativa, contas externas desequilibradas, gastos públicos descontrolados, caixa do Tesouro Nacional praticamente vazio, investimento em queda e a confiança de empresários e consumidores irremediavelmente abalada (https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-08/mantega-diz-que-e-preciso-mais-resultados-do-pib-para-ter-certeza-de).

Por sinal, para recompensar a fidelidade de Mantega, o Presidente tentou emplacá-lo CEO da Vale. E como não aprendemos com os próprios erros (contra indução), a bússola do PT segue orientada pela cartilha amantegada na política econômica..

Se está difícil entender, vamos pôr as coisas, resumidamente, às claras.

O governo federal não tem mais dinheiro para gastar e, para enganar os incautos, criou um pacote de corte de gastos que não corta muita coisa, apesar do gasto de energia do ministro da Fazenda Fernando Haddad para convencer os agentes econômicos do contrário.

O Congresso diz que até vota, mas só se puder continuar gastando muito sem dizer como e onde está gastando – com aquelas tais emendas secretas que Lula, durante a campanha, prometeu acabar e, sem conseguir, terceirizou a medida para Flávio Dino, o ministro-político do STF.

Enquanto o governo finge que corta, o Congresso finge que concorda e a imprensa finge que o culpado é quem critica o caminho, a inflação sobe, puxa os juros para cima e o Brasil segue célere para uma grave crise econômica.

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