Planeje suas finanças
Nunca tive apego por dinheiro, embora não seja louco e não saia por aí rasgando dinheiro.
Nunca assumo dívidas, longas ou pequenas; nem curtas e altas.
Já fui caloteado por colegas, “amigos” e conhecidos. No maior deles, seguirei pagando dívida por anos a desqualificado que posa de vestal. Aprendi a lição e desde então, evito me envolver com gente do tipo.
Mas, como todo brasileiro, meu maior algoz segue sendo o Estado, este ente abstrato, paquidérmico, guloso e insaciável, do qual tento, ao máximo, manter-me distante, muito embora retire meu sustento dos vencimentos que dele recebo. É a contradição da minha vida e que, se pudesse recomeçar, não carregaria. Há uma pior, mas que evito mencioná-la para não ferir gente de quem gosto.
O momento, até longo, pelo qual o Brasil passa (longo porque vem desde o início da década passada, talvez até do final da primeira década deste século) exige do brasileiro comum atenção redobrada, para evitar que caia prisioneiro das armadilhas financeiras.
Assumir dívida de longo prazo é um risco que precisa ser medido com extremo cuidado, dada a situação de descalabro das contas públicas e de instabilidade política e econômica.
A realidade política e econômica brasileira é, a despeito do que dizem otimistas extremados e realistas envergonhados, sofrível.
O motivo é simples: o Brasil enfrenta crise financeira grave e aguda, agravada por dívidas previdenciárias maciças e intensas, obrigações públicas progressivas e volumosas e quantidade massiva de precatórios pendentes a perder de vista, sem contar o quadro de instabilidade e radicalização política que não reflui.
A precária situação fiscal é sobejamente conhecida de todos a ponto de o próprio governo reconhecê-la.
O ministro Fernando Haddad, gestor do caos que não foi criado por ele, mas que é potencializado pela incúria daqueles que estão perto dele, passa dia sim e outro também tentando apagar focos de incêndios, quase sempre com sucesso parcial, criado por gente do governo do qual ele faz parte e pelos dois outros poderes da República.
Olhemos para o Brasil dos últimos 40 e poucos anos e veremos que o país nunca apresentou crescimento econômico per capita estável e significativo. O quadro nos últimos dez anos é lastimável. Provavelmente, se nada mudar, não iremos apenas estagnar, mas retrairmos, o que obriga o homem comum a apertar o cinto, de forma a garantir algum recurso para a travessia do deserto. Em outras palavras: sobreviver com parte da renda auferida hoje e guardar parte dela para manter o nível bem mais à frente.
É difícil, porque exige mudar hábitos, cortando um pouco na carne agora para evitar cortar até os ossos no futuro.
Não caiam no conto do crédito fácil. A armadilha já foi posta no nosso caminho nos “anos dourados” de Lula, no início deste século. A conta chegou no primeiro mandato de Dilma, que sem condições de bancar a farra, resolveu mantê-la. A conta chegou no segundo mandato dela e engolfou os mandatos de Temer e Bolsonaro e segue engolindo o de Lula, que mantém linha de pensamento que pretende distribuir melhor a renda, caminho louvável, mas feito apenas por meio do aumento de impostos, sem pretensão de diminuir os déficits públicos cortando gastos.
Há, mesmo entre nossos vizinhos da América do Sul, quem tenha percebido a bomba relógio armada e esteja mudando o rumo. Não é, infelizmente, o caso do Brasil, que escolhe manter o caminho já trilhado há quarenta anos e responsável pelo descalabro das contas públicas.