Omissão, esquecimento, ingratidão…
As emendas parlamentares individuais são como bilhetes de loteria no teatro da política brasileira. São instrumentos oficiais, legais, previstos no rito legislativo por meio dos quais deputados e senadores podem direcionar verbas do orçamento federal para suas bases eleitorais, por obrigação afetiva, eleitoral e, também, por instinto de sobrevivência política.
Cada parlamentar tem o poder de lançar sua emenda sem pedir bênção a ninguém. E esse poder é um dos principais mecanismos de descentralização dos recursos públicos. O dinheiro sai de Brasília aos pedaços para as bases eleitorais dos parlamentares.
Desde a Emenda Constitucional nº 86/2015, as emendas se tornaram impositivas. Agora o governo federal é obrigado a cumpri-las, até o limite de 1,2% da receita corrente líquida do ano anterior. Metade disso deve ir para a saúde. O resto é destinado a obras de todos os tipos – escolas, ginásios ou quadras de esportes, praças públicas, etc.
Grande parte desses recursos foram destinados a instituições de ensino.
O deputado Benes Leocádio (União Brasil–RN) tem encarnado o papel de um dos benfeitores do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Como coordenador da Bancada Potiguar, ele não economizou empenho em destinar emendas para a instituição. E não era pouca coisa. Abriu cofres e articulou apoios para levar recursos aos campi e mesmo à Reitoria. Laboratórios, centros de pesquisa, assistência estudantil receberam atenção do parlamentar.
Em fevereiro de 2021, o palco foi o Centro de Convenções de Natal. O reitor e a pró-reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional foram convidados por Benes. Tratava-se de decidir o destino de cerca de R$ 13 milhões em emendas de bancada. Lá também estavam a senadora Zenaide Maia e os deputados Beto Rosado e Natália Bonavides. Resultado: o IFRN recebeu sua fatia do bolo: laboratórios em Mossoró, reformas em Canguaretama, acessibilidade em São Paulo do Potengi. Tudo devidamente registrado na página da instituição ((https://portal.ifrn.edu.br/campus/reitoria/noticias/ifrn-apresenta-sugestoes-de-projetos-para-emendas-parlamentares/?utm_source=chatgpt.com). E em julho, novo ato: o programa IFRN: presente! levou Benes à Reitoria, com promessas renovadas para o campus João Câmara (https://portal.ifrn.edu.br/campus/ipanguacu/noticias/201cifrn-presente-201d-instituicao-recebe-parlamentares-para-debater-acoes-e-emendas/?utm_source=chatgpt.com).
Ainda no orçamento 2020-2021, Benes destinou R$ 250 mil de emenda individual ao IFRN. Da cota coletiva, saíram mais R$ 2,95 milhões. A justificativa da pró-reitoria de Administração é um hino à objetividade burocrática: “os recursos atendem obras, reformas, materiais permanentes e de consumo, beneficiando toda a rede do IFRN” (https://portal.ifrn.edu.br/campus/reitoria/noticias/gestores-buscam-parlamentares-para-discutir-recursos-orcamentarios/?utm_source=chatgpt.com).
Em março de 2025, novo capítulo. Benes, infatigável, destinou R$ 600 mil ao IFRN, focando em Lajes e Ipanguaçu. Infraestrutura turística, pavimentação, equipamentos — e, claro, a educação técnica como pano de fundo. No meio da dança das emendas, havia dinheiro para tudo: R$ 1,5 milhão para construir casas populares em Lajes, R$ 350 mil para a Polícia Rodoviária Federal, R$ 200 mil para o artesanato, outros R$ 200 mil para a indústria têxtil — e R$ 600 mil, novamente, para o IFRN, conforme registrou a Tribuna do Norte (https://tribunadonorte.com.br/politica/recursos-para-todas-as-regioes-do-rn/?utm_source=chatgpt.com).
O mandato de Benes Leocádio é, portanto, um desfile de emendas, uma missa contínua em favor do IFRN. Fez chover dinheiro: para laboratórios, refeitórios, acessibilidade, tudo. Visitou reuniões, participou de planejamentos, ofereceu números como quem distribui bênçãos. Seu compromisso com a educação técnica é visível, palpável, quase litúrgico, conforme é possível verificar na planilha que segue (Recursos destinados pelo Dep Federal Benes Leocádio ao IFRN).
Mas aí, meus três ou quatro leitores, vem o drama maior. A tragédia cotidiana. A bofetada. A ingratidão.
A gratidão, essa virtude em extinção, não compareceu. O IFRN, instituição vetusta e ilibada, esqueceu o nome de seu benfeitor. Nas páginas da casa de ensino quase nenhuma menção a Benes — salvo como líder de bancada. Nenhuma vírgula de louvor, nenhum agradecimento protocolar. Tudo documentado nos links, nos autos, nas entrelinhas.
Talvez – só talvez! – o IFRN padeça da mais brasileira das doenças: a seletividade ideológica. Gratidão aos amigos políticos, silêncio aos desafetos e adversários. Se este escriba maldito não estiver equivocado, os gestores da casa educacional faltaram à missa do reconhecimento. E, assim, o drama termina como em toda boa peça trágica: com o bem esquecido, o mal maquiado e a plateia em silêncio.