Opinião e bolhas

por Sérgio Trindade foi publicado em 25.nov.21

Os executivos que gerem as empresas que controlam as redes sociais parecem restringir cada vez mais os algoritmos, inflamando as bolhas.  Qualquer assunto, banal ou não, torna-se motivo para polêmicas sem-fim. (https://canaltech.com.br/redes-sociais/algoritmos-de-redes-sociais-formam-bolha-politica-em-torno-dos-usuarios-60755/).

Durante a semana circulou trecho de um vídeo no qual o jornalista Gustavo Negreiros afirmou que professores de História, de Geografia, de Filosofia e de Sociologia eram mais perigosos para os jovens do que traficantes de drogas. (https://www.instagram.com/reel/CWlVxCDJqq5/?utm_source=ig_web_copy_link) O vídeo de 3min26s teve pouco mais de 20 segundos divulgados. (https://gustavonegreiros.com.br/2021/11/22/a-esquerda-quer-me-cancelar-novamente). Imediatamente grupos se levantaram nas redes sociais, em uníssono, para defender os professores das áreas citadas por Negreiros e acusá-lo de fascista, demente, entre outras coisas.

Não sou leitor do blog dele e poucas vezes vi o programa radiofônico no qual ele está. Mas mudei de postura e, nos últimos dias, li o que ele escreveu sobre o acontecimento e revi o trecho inteiro (3min26s) do acontecido, postado no blog.

Escrevi troçando, em meus perfis nas redes sociais, sobre o assunto, mas como fui provocado por ex-alunos e colegas de profissão sobre o ocorrido, deixo aqui minha posição.

Antes de seguir, adianto: sou professor de História há três décadas, lecionei a disciplina em algumas escolas e, também, lecionei outras (Economia Política, Sociologia Jurídica e Ciência Política) em faculdades. Atualmente cumpro expediente, como professor de História, numa instituição federal de ensino. Sou (pretensamente) perigoso, segundo o jornalista citado.

Perguntaram-me se eu não teria de coragem de processar o jornalista. Respondi que a pergunta era mal formulada, mas ainda assim responderia: não o processaria e acho um equívoco processar alguém que tem uma opinião inteiramente diferente da minha e que a manifestou livremente. Repito: o que ele disse não me atingiu. Até entendi, revendo o vídeo todo, o que ele quis dizer, muito embora não o tenha feito adequadamente.

Achei infeliz, para dizer pouco, o que disse Gustavo Negreiros, mas não me senti pessoal ou profissionalmente agredido. É verdade que ele atacou um grupo, mas eu não sou grupo, ainda que esteja inserido em vários. Quem se vê como grupo que tome as medidas que julgar acertadas. Por sinal, o SINTE fez isso, abrindo processo contra Negreiros e instituições, como a ADUERN, emitiram nota de repúdio.

É bastante comum ouvirmos opiniões que generalizam o comportamento e a postura de grupos sociais, de gênero e de categorias profissionais, pondo todos no mesmo patamar (“Os políticos são todos iguais. Todos roubam”; “Os homens são todos iguais, uns machistas”). Foi o que fez Gustavo Negreiros, que, atuando como jornalista numa rádio, teceu comentários generalizantes sobre professores de História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Este foi, no caso em questão, o calcanhar-de-aquiles de sua argumentação, como ele mesmo reconheceu posteriormente o excesso. (https://gustavonegreiros.com.br/2021/11/25/carta-aos-professores) Insisto, porém, ele é jornalista e, como tal, deve ter resguardado o direito à livre opinião. Discordo dela, mas defendo o direito de quem não pensa igual a mim possa expressar livremente o que pensa. De toda forma, quem discorda do que foi dito deve se contrapor, apresentando fatos e argumentos que refutem a fala dele.

A cautela deve envolver o tom da crítica, pois os danos causados por generalizações grosseiras, maldosas, injustas e preconceituosas podem ser imensos. Ademais, generalizar sobre assuntos e temas que dependem de uma montanha de fatores e variáveis é uma postura idiota, pois reduz pessoas e grupos a estereótipos pré-concebidos e simplificam demais temas e assuntos complexos, construindo formulações simplórias.

Quanto ao processo contra Gustavo Negreiros, digo: tivesse feito acusações a mim, pessoais ou profissionais, levá-lo-ia às barras dos tribunais. Como ele fez referências genéricas à atuação de professores, não me senti ofendido – mesmo que eu seja parte, fração minúscula, do grupo. Fujo de bolhas. Tenho posições claras sobre assuntos que afetam a mim e ao mundo que me cerca. Não sou muito afeito ao propalado espírito de corpo, ao pertencimento a grupos, coletivos, etc, etc e etc.

Quem quiser espernear, esgoelar-se, dar chilique e faniquito e processar o jornalista, o caminho está livre. Quem quiser discordar de minha postura, o caminho está livre. Quem quiser ofender o grupo dos omissos, ao qual certamente alguns dirão que é o meu, esteja à vontade. Não me agredindo, não me injuriando e não me difamando, fiquem à vontade, para divergir de minha posição.

Aos que acham que eu cerro fileiras com Gustavo Negreiros e, portanto, concordo com o que fez e disse, releia o texto, se o problema for de entendimento. Se for má fé, siga adiante.

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