Qual educação profissional é necessária?

por Sérgio Trindade foi publicado em 28.out.24

No Brasil sempre prevaleceu a forma sobre o conteúdo, o raciocínio mágico sobre o lógico, a habilidade intelectual sobre o trabalho manual, o cuidado meticuloso sobre a funcionalidade/utilidade da essência, a atividade exploratória sobre o plantio, os estudos humanísticos sobre os naturais e assim por diante.

O percurso resultou em um país abacharecido, onde o bacharel, cheio de modos, preocupa-se com a retórica da formalidade dos assuntos e não se concentra nos seus conteúdos.

O país onde a produção manual sempre foi vista como inferior pelos bem-nascidos, sendo relegada ao último patamar das ocupações humanas.

Passamos séculos sem nos preocuparmos em preparar indivíduos para a carreira profissional e, ao despertarmos, já no começo do século XX, estabelecemos escolas e currículos para formar gente para trabalhos, para a produção manual, para ser engenhosa e criar artifícios que resolvam os problemas das pessoas reais.

Até que veio o século XXI e – como o Brasil é Brasil, o que dá certo precisa ser descartado para fazermos experiências que já se mostraram equivocadas, mas que, quem sabe?, dentro da lógica contra-indutiva, pode um dia dar certo – partimos novamente para  o equívoco que a experiência histórica já nos ensinou ser equívoco.

As escolas criadas por Nilo Peçanha em 1909 foram se ajustando pontualmente a cada mudança no mercado de trabalho até serem “revolucionadas”, em parte da estrutura administrativa e em boa porção dos currículos.

O ensino básico aí ofertado foi alterado (em grande medida pela maneira como o ensino médio se estrutura no Brasil) e em vez de um ofício prático e de um saber para garantir a prosperidade dos alunos que por ali passam, resolveu-se que o ensino deveria carregar em leitura, escrita, contas e humanidades, sangrando a parte curricular referente à formação profissional.

Abrem-se e fecham-se ciclos e um ou outro burocrata sentado diante de um birô (do francês, bureau, daí burocracia) aponta para um grupo o caminho a ser seguido e o grupo, mais preocupado em cultivar sua vaidade e seus benefícios, acata a sugestão-ordem ou degrada ainda mais o que vem dos birôs mágicos.

E, assim, o Brasil gasta fortunas em um ensino que não atende aos requisitos do mundo que se descortina diante de todos.

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