ABC movimentando o recreio
Como menino traquina em recreio de colégio muito tradicional, o ABC bagunçou a vida de colegas: roubou pirulito, pôs bomba junina na bolsa de almofadinhas, colorau no suco de morango da mocinha de nariz empinado e graxa no sanduíche do fortão da turma. E invadiu o show de música mais aguardado deste final de ano. Os coordenadores piraram, a secretaria não deu conta de preencher formulários de advertência para os pais da pestinha e o diretor ficou sem saber como proceder.
O ABC foi assim quando as luzes da série B do Campeonato Brasileiro estavam começando a se apagar.
Se eu fosse presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) premiava o ABC, mantendo-o na série B. Afinal o time do Rio Grande do Norte foi o responsável, nas três últimas rodadas da série B, por movimentar as três principais séries do Campeonato Brasileiro.
Rebaixado há várias rodadas e com campanha miserável até então, o time da terra de Câmara Cascudo, pelo qual ele torcia, resolveu jogar bola na reta finalíssima da série B e destruiu o sonho de duas equipes, Guarani e Vila Nova, de chegar à série A. E quase inviabiliza o acesso de outra, o Juventude.
Na antepenúltima rodada do certame, o Mais Querido empatou, 0 a 0, no Frasqueirão, com o Juventude, dia 15/11. A perda de pontos obrigou o Juventude, na última rodada, a fazer das tripas coração para, com um jogador a menos, vencer o Ceará e carimbar a passagem para a série A.
Na penúltima rodada, jogando no Brinco de Ouro, em Campinas, bastava ao Guarani vencer o ABC, lanterna isolado, e partir para cima do adversário seguinte, o Atlético-GO, para voltar à elite do futebol brasileiro. A torcida, mesmo com o temporal que São Pedro fez desabar sobre todo o estado de São Paulo, foi ao estádio e testemunhou a vitória do ABC, 2 a 1, sobre o bugre campineiro. Por mais um ano, o Guarani pulou uma jogada e adiou o retorno à primeira divisão.
E assim a série B chegou à última rodada.
Vitória e Criciúma estavam garantidos na A. Vila Nova, Juventude, Atlético-GO, Novorizontino e Sport disputavam duas vagas. Todos assistiam aos jogos de suas equipes (Vila Nova, Juventude, Atlético-GO, Novorizontino, Sport) e mantinham olhos e ouvidos atentos ao que ocorria em Natal, afinal acessos e permanências dependiam não só do que cada um fazia, mas do que o ABC poderia aprontar. E lembremos, o ABC era há uns dias garoto travesso, traquina, peralta…
O Vila Nova dependia apenas das próprias pernas para chegar ao topo das séries do Campeonato Brasileiro. A sua torcida invadiu Natal, foi recepcionada por torcedores do América, maior rival do ABC, na sede do clube, percorreu as principais ruas e avenidas de Natal, lotou o local a ela destinada no Frasqueirão apenas para aguardar o apito final anunciando o acesso do clube goiano. No entanto, como a pedra de Carlos Drummond de Andrade, lá estava o ABC, a atrapalhar a caminhada alvirrubra – 1 a 0, 2 a 0, 2 a 1, 3 a 1… 3 a 2., e o Vila Nova, que chegou arrogante, partiu, de volta a Goiânia, sabedor de que, vale o clichê, só peru de Natal morre na véspera.
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Quem foi à noite ao show da banda Titãs, no Arena das Dunas, viu o baterista Charles Gavin envergando a camisa do ABC, em grande jogada de marketing do clube de Ponta Negra.
O ABC, depois de maltratar a sua enorme e fanática torcida, despede-se de 2023 sendo manchete, dentro e fora das quatro linhas.