O arrivismo neymariano

por Sérgio Trindade foi publicado em 06.ago.17

É preciso botar o pé no chão e falar a verdade: minha torcida é coisa nossa. No peito, só carrego o ABC, o Vasco da Gama e o São Paulo. A Europa, a gente assiste por obrigação profissional, por estudo, para ver a bola correr solta e com grana. O Barcelona é simpatia, como quem aprecia um bom vinho, mas não é febre. Acompanho o que se joga de sério, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Itália. De resto, é de chorar. O futebolzinho francês e português, por exemplo, são uns torneios de várzea; na média, não perdem de muito para o que a gente vê de jogo sem sal na Série A brasileira. A Liga dos Campeões é a exceção, o melhor torneio, no qual o bicho pega de verdade. E esse ano, o que aconteceu? A Champions e o tal campeonato francês — que é um torneio fraquíssimo para os padrões europeus — ganharam uma pimenta nova com a tal novela Neymar no Paris Saint-Germain (PSG).

Vamos ser francos e chamar o gato de gato. Neymar é craque. Ponto. Um dos três melhores do mundo. Tem o drible, tem o faro, tem a genialidade. Ninguém discute a bola que ele tem nos pés. Mas o talento não exige simpatia. O problema de Neymar não é o campo, é a cabeça. O rapaz é um arrivista, um sujeito que pensa primeiro no espelho, depois no bolso, e, só depois, no campo de jogo. É o tipo que usa qualquer recurso, honesto ou não, para aparecer e subir na vida. Quando foi para o Barcelona, pensei que a disciplina de um clube gigante daria uma vacinada nesse ego desmedido. Que nada! A lealdade não é o forte de quem só pensa em cifrão. Aí veio o PSG, a transação indecente de mais de um bilhão de reais, e a lambança com o torcedor catalão. E o que disse o moço, incomodado com a sujeira que ele mesmo fez? “As pessoas que pensam que vim por dinheiro não sabem nada da minha vida.” Ora, meu filho, vá contar essa história para a turma do Dindin!

O menino tem, sim, um assessoramento de dar dó, começando pelo pai. As duas transferências dele, do Santos para o Barcelona e do Barcelona para o PSG, mostram que os empresários são uns cabeças-de-bagre sem tato. Mas a responsabilidade é dele. Ele é o craque em campo, e um tremendo perna-de-pau fora das quatro linhas. Essa transação indecente, esse mal-estar com o torcedor, esse circo midiático… isso tudo é a foto fiel do que Neymar é e do que ele quer na vida: mais vitrine e mais grana, e menos bola na rede por convicção.

Futebol de craque é arte, não é agiotagem.

Por Sérgio Trindade

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