Overdose de “títulos”

por Sérgio Trindade foi publicado em 02.mar.23

Com certa frequência aparecem rankings dos jogadores que mais conquistaram títulos. A abundância de copas, campeonatos, torneios e outras coisas mais, nos dias que seguem, explica a quantidade praticamente infinita de títulos que têm Daniel Alves, o maior papador de títulos, 43, na carreira (https://www.espn.com.br/futebol/selecao-brasileira/artigo/_/id/11313300/maior-campeao-futebol-daniel-alves-vai-bater-recorde-brasil-pouca-historia-copas), ou Messi (42) ou Cristiano Ronaldo (33) (https://www.goal.com/br/not%C3%ADcias/messi-vs-cristiano-ronaldo-quem-tem-mais-titulos/xrob8ybxll7h13d64r533a2df).

Neste início de ano, o Flamengo disputou três títulos (perdeu os três) e ainda se encontra jogando o campeonato carioca, pelo qual terá clássico contra o Vasco da Gama (que um dia foi grande), próximo domingo.

Poucos atletas do futebol do passado mais distante teriam condições de competir, em número de títulos, com os atuais. Uma das poucas exceções é Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, que tem 37 títulos na carreira (https://www.lance.com.br/futebol-nacional/quantos-e-quais-titulos-pele-ganhou-na-carreira-veja-lista-completa.html), embora haja números muito mais impressionantes (https://ge.globo.com/pele/noticia/2022/12/29/gols-e-titulos-os-impressionantes-numeros-da-carreira-de-pele.ghtml). Pelé, porém, só tem duas Libertadores, porque o Santos priorizou, na década de 1960, o campeonato paulista e excursões que lhe garantiam vultosos recursos para manter um elenco estrelado com folha salarial alta.

A Copa Libertadores da América, atualmente a maior atração para todos os clubes da América do Sul e quase uma obsessão para os brasileiros, nunca foi prioridade para o Santos – e para outros clubes brasileiros, nos anos 1960. Depois de vencê-la por duas vezes (1962 e 1963), a diretoria do alvinegro praiano se indignou com as eliminações nas duas semifinais seguintes, marcadas por episódios polêmicos, e retirou o clube das três edições seguintes, em virtude de dois fatores: o favorecimento aos clubes argentinos e uruguaios e os altos custos das viagens. Em entrevista à revista Placar, Pepe, o segundo maior artilheiro do Santos, disse sobre a antipatia nutrida pelo Santos à Libertadores: “Os dirigentes achavam que não era interessante. Por questões financeiras, o Santos preferiu priorizar as excursões internacionais para conseguir bancar seus sete ou oito jogadores de seleção” (https://placar.abril.com.br/placar/mito-os-gols-nao-oficiais-de-pele-e-seus-devidos-contextos/).

Um jogador do futebol brasileiro disputa hoje, numa temporada, quatro campeonatos: Estadual, Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores da América ou Sulamericana. Se vencer a Libertadores tem um torneio extra, o Mundial de Clubes. Ou seja, pode disputar cinco títulos. E na temporada seguinte, os vencedores do campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil disputam, em jogo único, um título; o mesmo ocorre entre o campeão da Libertadores e da Sulamericana. Ainda há, pela Seleção Brasileira, uma Copa América a cada dois anos e uma Copa das Confederações e uma Copa do Mundo a cada quatro.

São sete títulos em disputa por clube por ano e copas e torneios jogados pelas seleções nacionais a cada dois ou quatro anos. O mesmo ocorre na Europa, o que torna mais fácil um jogador acumular títulos.

A crítica não é a Daniel Alves, um lateral direito eficiente, mas jogadores como ele (o mesmo pode ser dito sobre Gabigol) acumulam títulos por jogarem em grandes esquadrões (como Pelé jogou), mas também pela quantidade imensa de campeonatos, copas, torneios e jogos únicos valendo títulos.

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