Terça gorda
Tive dia cheio ontem, das compras da manhã ao farto almoço do meio da tarde e, por isso, perdi a partida das 13h da Euro-2024.
Gravei-a e a assisti antes e depois do jogo da tarde, entre Áustria X Turquia.
A seleção dos Países Baixos, a qual chamarei de Holanda daqui por diante, não é nem sombra da lendária Laranja Mecânica da Copa de 1974 e das gloriosas seleções da Euro 1988 e da Copa 1998, que jogavam futebol de gente grande, mas não está distante do bons selecionados das Copas de 2010 e 2014.
Claudicante na primeira fase, quando foi terceira colocada do seu grupo, mostrou ontem em Munique que os adversários precisam vê-la com muito mais atenção, embora não tenha jogado tudo o que pode. Nos melhores momentos pareceu a Holanda de Johan Cruijff e Johan Neeskens (1974), de Marco van Basten e Ruud Gullit (1988) e de Dennis Bergkamp e Patrick Kluivert (1998).
Jogando partida que oscilou de regular, na maior parte, a ótima ao longo dos noventa minutos, sapecou um belo e convincente 3 a 0 na Romênia, salvando-se a porção latina da antiga cortina-de-ferro de tomar uma goleada histórica.
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O jogo das 16h entre turcos e austríacos foi o melhor das oitavas-de-final.
A Áustria, primeira colocada de um grupo que tinha França, Holanda e Polônia, era a favorita. Suas credenciais estavam no futebol que exibiu nas relvas germânicas, mas os turcos envergaram as vestes militares do sultão otomano Maomé II e precisaram não de 53 dias, como tiveram para transpor, em 1453, os muros de Constantinopla, mas de 90 minutos para, com dois tiros, abaterem as forças da austríacas.
A vitória turca sobre a Áustria, 2 a 1, empurra os orientais ainda mais em direção ao ocidente, a baterem-se em futuro próximo contra os holandeses que um dia foram mecânicos com arte.
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À noite, estava uma vez mais diante da TV, amiga dileta e comportada, para testemunhar Brasil e Colômbia, pela Copa América, jogada na América (perdoem-me os antiamericanos que chamam os norte-americanos de estadunidenses).
Dorival Junior e os jogadores deveriam ser processados por tortura.
Tortura com requintes de crueldade, ou não é cruel assistir Paquetá responsável pela armação do time, quando não tem criatividade e nem desembaraço para armar rede?
Ou testemunhar a dupla de volantes João Gomes e Bruno Guimarães, tecnicamente limitados, destruírem e destruírem qualquer possibilidade de saída de bola com qualidade?
O time dirigido por Dorival Junior não teve criatividade alguma no meio-campo, viveu de trocar passes no campo de defesa, por vezes entre os zagueiros e goleiro, e chutar a bola para frente, na esperança de os atacantes resolverem a parada.
Os laterais foram razoáveis na marcação e muito ruins no apoio, o que inviabilizou o jogo pelos lados.
Não há referência alguma no ataque, porque não temos centroavante de ofício (Pedro ficou por aqui fazendo gols). Vinícius Junior, que come a bola no Real Madrid, cisca e cisca na ponta esquerda, corre sem objetividade na diagonal e olha bovinamente para a frente. Rodrigo, outro que se destaca no Real, é jogador sem alma na seleção brasileira, como funcionário público que bate o ponto e fica esperando o tempo passar enquanto toma cafezinho. Raphinha, bem Raphinha, a despeito do belo gol de falta assinalado, lembra-me Marreco, esforçado meia do Riachuelo e do Atlético, o Moleque Travesso, nos anos 1970-80.
A terça gorda encerrou-se com futebol famélico.
Se é para ver a mediocridade reinar em campo, que o Uruguai nos envie de volta para casa.