O Brasil dos malandros que se vestem de raposas
Tenho me manifestado, desde sempre, de forma contrária ao confronto com o governo, por uma razão simples: Temer e os que o cercam não são pautados por protestos vindos da rua.
A impopularidade não assusta Temer. Ele entrou no governo convicto de que o cidadão brasileiro não lhe era – e cada vez mais lhe é menos – simpático. E entrou no governo cioso de uma tarefa, inglória, mas necessária – fazer reformas estruturais, todas, é bom ressaltar, imprescindíveis. Fazê-las implica em ter apoio consistente do Congresso Nacional, um dos pilares da república, ainda que por vezes movido por interesses pouco republicanos.
O vil metal é um poderoso combustível para dotar os nossos parlamentares de consciência cívica. Temer, mais de uma vez presidente da Câmara de Deputados, e as raposas (Moreira Franco, Eliseu Padilha, entre outros) que o cercam são todos profundos conhecedores dos mecanismos do submundo da velha política (da nova também). Falam a linguagem que o baixo clero entende, aquela que o ex-deputado federal Roberto Cardoso Alves exprimiu, utilizando-se de passagem de São Francisco de Assis: “É dando que se recebe”.
Temer quer aprovar as reformas? Pague por elas. Temer quer se manter na Presidência da República? Pague por elas. Ficam os dedos do governo e vão-se os anéis. É esta a negociação que governo faz, sem que as ruas se manifestem.
Pagar significa liberar emendas ao orçamento, receber parlamentares em convescotes, etc. É a perpetuação da velha politica sob o olhar manso, bovino até, do cidadão brasileiro.
O problema é que os fatos têm atropelado o Presidente da República. As reformas não andam na velocidade inicialmente desejada porque o governo precisou – e continua precisando – mobilizar esforços no sentido de barrar as investigações que assolam o Palácio do Planalto e cercanias.
Como as reformas não andam, o Orçamento da União, anunciado com déficit estratosférico em março e atropelado pela fome voraz de quem é mimoseado pelo governo federal, pode estourar de vez, o que levaria o país a um perigoso quadro de crise fiscal e, no limite, de insolvência.
São duas as possibilidades do governo, e a contabilidade não prevê outra: diminuir os gastos ou aumentar as receitas. A segunda opção implica em aumento de impostos, difícil de ser justificado, tendo em vista que a elevada carga tributária brasileira, sem que o Estado consiga oferecer contrapartidas eficientes em serviços.
Descartada a segunda opção, sobra novo corte de gastos (a tesoura já passou voraz no corte de investimentos). E o governo sonda a possibilidade de congelar os salários de servidores públicos federais.
A medida é contabilmente eficaz, não há dúvidas. A questão é como justificar a medida:
1) Quando o Congresso Nacional patrocinou um montante de 3,6 bilhões para os partidos políticos.
2) Quando o Ministério Público concedeu aumento a si mesmo.
3) Quando os Poderes Legislativo e Judiciário chafurdam em benefícios que aos olhos de qualquer pessoa de bom senso são um abuso, enquanto faltam recursos para o funcionamento de escolas, de hospitais, etc.
Tom Jobim disse, com propriedade, que “O Brasil não é para amadores”.
O Brasil que amadores não explicam tem sido espaço aberto para os malandros. Temer tem puxado a fila.
Há uns meses, um líder político brasileiro disse que sem financiamento privado nos pleitos eleitorais, quem deve desembolsar dinheiro é o Estado. Na lógica tosca dele, a democracia é cara. Ora, o custo da democracia no Brasil não é alto; custosos, aqui, são os políticos.
Está na hora de o monstro, como à opinião pública se referiu Juscelino Kubitschek, despertar. Contra o Congresso, pois é ele quem manda no governo.
A pauta? O fim das regalias, das mordomias, das mamatas… do tal Fundo Partidário.
Por Sérgio Trindade