Paciência tem limite

por Sérgio Trindade foi publicado em 12.set.20

Sou professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e há quase seis meses estou sem exercer minha atividade-fim, a docência.

Reitoria do IFRN

Já li e ouvi colegas tentando se convencer e convencer a outros que estão trabalhando normalmente ou quase normalmente, não sei exatamente em que.

Suspeito que o colega não consiga nem se convencer do que diz.

Seis meses parados e sem dar satisfação alguma à sociedade, estamos há pelo menos três meses travando luta para que a instituição retorne com as aulas, pelo menos de forma remota. Para isso, faz-se necessário que Reitor e Colegiados e Conselhos [Conselho de Ensino (COEN), Colégio de Dirigentes (CODIR) e Conselho Superior (CONSUP)] cheguem a algum acordo e durante todo esse tempo eles viveram às turras, dando caneladas, botinadas e torrando a paciência de muita gente.

Fui diretor acadêmico de uma unidade do IFRN por pouco mais de cinco anos e durante o período constatei que o COEN aponta quase todos os caminhos por onde a instituição vai seguir, no CODIR se passeia a vaidade dos tolos e no CONSUP a vaidade dos deuses.

Por duas vezes, desde abril, quando o governo federal nomeou um reitor pro-tempore/ interventor para comandar os destinos da instituição enquanto o reitor eleito é investigado por, conforme corre em processo, apoiar, quando diretor geral da maior unidade do IFRN, evento Lula Livre, assisti reuniões do CONSUP. Na primeira, tinha pauta do interesse de comissão que presido; na segunda, fui mero ouvinte.

Nas duas, minha impressão sobre o CONSUP, sobre o Reitor e sobre a relação Reitoria/CONSUP é a pior possível. Cheguei a dizer algo sobre isso em outro artigo. (http://historianosdetalhes.com.br/fala-sergio/espirito-publico/)

Na primeira reunião percebi o CONSUP com cara e jeito de espaço de diversão vedado a menores de 18 anos (não direi o nome para me preservar e preservar o paradoxalmente santo e sacrílego espaço de lazer), no qual conselheiros não se respeitam, tripudiam do seu presidente e são por ele tripudiados e, portanto, tripudiam do próprio Conselho, não decidem, perdidos em filigranas regimentais (frangagens, com diz um dileto colega e amigo), esquecendo assuntos de importância maior para a normalidade administrativa e mostram que o CONSUP é, hoje, espaço aviltado.

Na segunda, constatei-o como aquela pelada de nossa infância, na qual o dono da bola carrega-a quando contrariado, encerrando a peleja jogada em campo de terra ou no meio da rua. O dono da bola, o Reitor, presidente do Conselho, fez beicinho porque não tinha um membro da gestão em comissão encarregada de fazer um determinado trabalho. Ora, o trabalho foi feito e, parece, a contento, logo cabia ao conselheiro-mor dar andamento aos trabalhos e não voltar aos cueiros.

Escrevo como se estivesse generalizando e adianto, desde já, que vi posturas dignas e maduras em meio ao lodaçal que sangra a instituição e desfalca o Tesouro, logo todos nós que financiamos o circo de horrores consupeano.

Um dia, quem sabe, os conselheiros percebam que os financiadores da brincadeira não mais aceitarão pagar pela diversão sem limites e Reitor e CONSUP sejam obrigados a atuar para garantir o bem comum, que não coincide, registro, com os interesses dos mandões do momento, estejam eles sentados na cadeira de Reitor, de Diretores Gerais ou de conselheiros do CONSUP.  

O sinal do parquet demonstra que a sociedade está incomodada com o nosso imobilismo. (http://www.mpf.mp.br/rn/sala-de-imprensa/noticias-rn/mpf-cobra-agilidade-do-ifrn-na-concessao-de-auxilio-a-estudantes-para-ensino-remoto)

É hora de nos mexermos.

filtre por tags
posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar