Karl Popper, o método científico e a circularidade

por Sérgio Trindade foi publicado em 20.jan.24

Sou da área de humanidades e deparo-me cotidianamente com uma infinidade de métodos e metodologias para explicar os fenômenos das áreas que estudo. Quase todos infrutíferos ou extremamente limitados.

Sigo, para me vacinar contra modismos, a trilha aberta pelo austríaco Karl Popper, para quem não devemos duvidar da existência do mundo físico (realidade), pois para que a ciência forneça fundamentos confiáveis é imprescindível aceitar, mesmo que aparentemete improvável, o que está posto. Em poucas palavras, o que nós sabemos é mais importante do que o se ou o como eu sei.

A pedra angular de método científico, para Popper, é a boa-fé dos cientistas em prospectar e buscar as mais rigorosas formas possíveis de falsear hipóteses, isto é, de verificar falhas em trabalhos que se apresentam como científicos. Qualquer ideia cuja refutação seja inconcebível não é científica. Daí a crítica popperiana à metafísica – não pela sua inutilidade, mas pelo fato de metafísicos divulgarem suas reflexões como se científicas fossem. Ela, a metafísica, é estimulante, dizia Popper, não tem condição alguma de ser prescritiva.

A conclusão do mestre austríaco é basilar: o método científico implica o ser acessível a críticas, por isso não pode, nunca, o conhecimento ser questão de convicção pessoal. Só o exame minucioso e circunstanciado e a probabilidade de refutação pelos mais rigorosos críticos permite a algo o status de conhecimento. Logo, a falibilidade não é evidência de fraqueza de uma teoria, mas justamente o contrário; estar aberta à refutação é o que garante o seu contato com a realidade e, portanto, o estatuto de conhecimento científico.

Desta forma, mesmo reconhecendo que as ideias de Karl Marx, por exemplo, sejam moralmente inovadoras e contenham uma percuciente crítica social e tenham exercido grande fascínio pela engenhosidade de seus diagnósticos e críticas, elas não podem ser consideradas científicas, porquanto sua sistemática incapacidade de conceber, imaginar e fornecer as circunstâncias sob as quais venham a ser consideradas falaciosas. Repetindo: qualquer proposição que não possa ser verificada carece de sentido, afinal o que empresta plausibilidade a hipóteses científicas é sua capacidade de sobreviver às críticas  sistemáticas e precisas para testá-las, tendo em vista a ciência não se processar pela demonstração de que certas coisas ocorrem ou do porquê elas ocorrem, mas a de que certas coisas não podem ocorrer. Sendo assim, o marxismo nada mais é do que uma tautologia protegida da refutação por uma circularidade que se propaga por meio de termos suficientemente elásticos e/ou vagos para permitir que os fatos se adequem a qualquer coisa. Críticos serão descartados sob a singela acusação de serem serviçais da burguesia.

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