Brasil: achado ou descoberto?
Os descobrimentos portugueses são frequentemente datados a partir de 1415, muito embora naus lusitanas tenham navegado pelo oceano Atlântico antes disso, ao atacarem e conquistarem Ceuta, no norte da África.
Os portugueses começaram suas explorações atlânticas no reinado de D. Dinis, no século XIV, quando um dos seus navios chegara aos Açores.
Pouco depois, a atenção portuguesa voltou-se para as ilhas Canárias, que já eram conhecidas dos romanos, por meio de um rei da Mauritânia. Antes da virada do ano 1.000, árabes comercializavam lá com os nativos. Ainda assim, durante a Idade Média, as Canárias ficaram praticamente esquecidas.
Não poucas ilhas atlânticas eram conhecidas ou citadas por navegadores na transição do período medieval para a era moderna. Quase todas foram perdidas.
Ainda que a navegação pelo Atlântico já estivesse se tornando cada vez mais comum entre os séculos XIV e XV, Ceuta foi o gatilho que disparou a ânsia portuguesa por conquistas, com o infante D. Henrique à frente do projeto expansionista luso.
Os portugueses foram os primeiros a ancorarem nas ilhas da Madeira, Açores, Cabo Verde, Santa Helena, Ascensão e Tristão da Cunha, entre os séculos XV e XVI. Também foram até a Groenlândia, Labrador e Terra Nova, no início do século XVI, e tentaram, em meados do século XVI, colonizar a Ilha de Cabo Bretão e a Nova Escócia. Foram terras achadas e descobertas.
De 1415 a 1488, devassaram todo o litoral atlântico africano, contornaram o continente em 1488. Em 1498, chegaram, com o almirante Vasco da Gama, à Índia, iniciando aí um período de meio século de intensa atividade comercial e missionária, com os portugueses organizando expedições às ilhas do Cravo, às Banda, às Molucas e a Cantão. Depois, à Nova Guiné, à Coréia e mesmo à Austrália, dois séculos e meio antes do capitão Cook.
Dois anos depois de Vasco da Gama chegar à Índia, Pedro Álvares Cabral aportou no continente americano, mais precisamente na costa brasileira, em algum espaço entre o Rio Grande do Norte e a Bahia.
A fúria expansionista portuguesa nos traz as seguintes indagações: os portugueses acharam ou descobriram o Brasil? https://www.academia.edu/13554828/Capistrano_de_Abreu_Descobrimento_do_Brasil_e_Povoamento
A carta de Pero Vaz de Caminha, o documento principal sobre a chegada dos portugueses ao Brasil, não utiliza em momento algum a palavra descobrimento. Caminha usa a expressão achamento.
O substantivo descobrimento aparece nos documentos portugueses no final do século XV, quando a chancelaria do rei D. Manuel redigiu um documento descrevendo a viagem de Vasco da Gama à Índia.
Antes disso, o verbo achar era utilizado pelos portugueses para indicar a chegada deles às ilhas que estavam espalhadas pelo Mar Oceano (Oceano Atlântico), as tais ilhas perdidas no período medieval.
Desta forma, ao se depararem com ilhas perdidas e reencontradas, os navegadores lusitanos diziam estar achando-as, “reencontrando-o o que estava perdido”, no dizer de um estudioso do período. http://www.continuitas.org/texts/donnard_ilhabrasil.pdf
De meados do século XIV em diante, quando os portugueses começaram a chegar em novas terras, entre as quais os litorais africano e americano, criaram um termo para se referir aos seus feitos marítimos.
A palavra descobrir assumiu, então, um novo significado, o de revelar o que estava oculto, diferente de achar que indicava revelar o que estava perdido.
No século XV, os portugueses acreditavam na existência de uma ilha lendária situada no Mar Oceano, a Ilha do Brasil. Tal ilha teria sido descoberta, no século V, por São Brandão. Logo, quando outros navegadores portugueses, entre os quais o grande Duarte Pacheco Pereira, chegaram por aqui, seria possível que imaginassem estar na mítica ilha.
Se assim foi, alguém achou o Brasil antes de 1500. Quem o descobriu, porém, foi Cabral.