Entre críticos e chaleiras

por Sérgio Trindade foi publicado em 04.out.19

Chaleiras eram os puxa-sacos do senador Pinheiro Machado.

A bajulação era chamada, no Brasil colonial, de engrossamento. Na República Velha, virou chaleirismo ou chaleiramento.

O termo vem dos aduladores do senador gaúcho Pinheiro Machado (1851-1915), personalidade política mais influente de sua época, que disputavam o privilégio de lhe levar a chaleira para repor a água do seu chimarrão.

 

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Assim, chaleiras eram os que carregavam a chaleira com água quente para pôr na cuia de chimarrão do senador gaúcho.

O espírito leve e zombeteiros dos cariocas carregou para uma marchinha de carnaval, Pega na chaleira, de 1906, a sanha dos aduladores de Pinheiro Machado: “Nesse século de progresso / nessa terra interesseira / Tem feito grande sucesso o tal pela na chaleira”.

Estou há uns dias mexendo num texto acadêmico que pretendo enviar, como livro, para publicação.

Estava lendo as formulações aristotélicas sobre a democracia ateniense e comparo-a com a democracia de massas, quando me lembro de um fragmento atribuído ao brilhante poeta argentino Jorge Luís Borges: “A democracia é um grande erro estatístico, pois nela a maioria decide, e a maioria é composto por imbecis.”

Se assim é quando lidamos com grandes contingentes populacionais, não deveria sê-lo com pequenos grupos, ainda que Aristóteles diga que a democracia em Atenas seja um regime corrompido.

Nas Escolas, espaços que formam as pessoas para enfrentar e construir o mundo, a prática democrática deveria ser pautada por posturas alicerçadas em padrões morais rígidos.

Casa de ferreiro, espeto de pau.

Acompanho com interesse toda e qualquer movimentação política – na escola, na cidade, no estado, no país e no mundo.

Quem dirige uma Escola, um Município, um Estado ou um País não deve preferir o elogio que corrompe à crítica que corrige, como ensinou Santo Agostinho de Hipona: “Prefiro os que me criticam porque me corrigem aos que me elogiam porque me corrompem”.

Já antevia a situação há uns bons seis ou sete anos.

Constatei-a in loco.

O risco que um líder corre ao se cercar de chaleiras e afastar-se de críticos é isolar-se administrativa e mesmo politicamente, descer às profundezas da vilania ou do ridículo ou cair no silêncio misericordioso de todos.

Escrevo sem pensar que qualquer crítica trará correções, mas insisto: o melhor, ensina a História e a Vida, é ter críticos a chaleiras por perto.

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