Getúlio Vargas e seu Anjo Negro

por Sérgio Trindade foi publicado em 26.ago.23

No último dia 24 fez sessenta e nove anos da morte de Getúlio Dornelles Vargas.

A longa crise que engolfou o governo do gaúcho de São Borja chegou ao ponto de não retorno quando capangas ligados à guarda pessoal, sem o conhecimento do Presidente da República, tocaiaram o principal crítico de Vargas, o jornalista Carlos Frederico Werneck de Lacerda.

A guarda presidencial nasceu em 1938 quando os integralistas atacaram o Palácio da Guanabaura, no Rio de Janeiro, e o então ditador Vargas e sua família, sem segurança adequada, tiveram de pegar em armas para se defender, sendo auxiliados por um investigador de polícia e por um ajudante-de-ordens.

Para evitar que isso ocorresse novamente, Benjamin Vargas (Bejo), irmão caçula de Getúlio, organizou um grupo no Rio Grande do Sul, terra natal dos Vargas, e trouxe para o Rio de Janeiro. Eram duas dezenas de homens fiéis e entre eles estava Gregório Fortunato, um homem muito grande, negro e bronco. A guarda dava plantão e dormia no Guanabara e era responsável pela segurança pessoal do Presidente da República.

Caído Vargas em 1945, a guarda pessoal foi extinta e somente retomada quando o ex-presidente foi eleito e empossado em 1951.

Durante a campanha, vale ressaltar, o próprio Vargas explorou demagogicamente a imagem do chefe de sua segurança pessoal, deixando-se fotografar ao lado de Gregório. Queria explorar a proximidade que tinha com aquele homem de origem humilde. Lá está Vargas sendo penteado pelo seu segurança. A imagem era clara: o caudilho dos pampas paparicado pelo povo servil. A imagem expressava a força popular do pai dos pobres, o homem assistido pelo povo e que ao povo prestava assistência. Em suma, o homem assistencial.

Gregório, o antigo peão na fazenda dos Vargas e filhos de escravos alforriados, reassumiu a liderança do grupo e passou a dar as cartas, quando Bejo não se manifestava, à turma e, andando em ternos bem cortados e usando anéis e colar ouro, era paparicado e recebia favores de políticos e empresários. Ignorante e grosseiro, afeito aos códigos rudes das estâncias gaúchas, onde trabalhadores eram servos de dedicação canina, tornou-se também arrogante e prepotente.

A reconstituição da guarda pessoal foi feita com base em recursos financeiros oriundos do SESI e de um fundo secreto do Departamento Federal de Segurança Pública e daí em diante ninguém, até a crise de agosto de 1954, segurou mais Anjo Negro.

Cortejado por todos, tirava proveito da proximidade com os poderosos para conseguir favores e vantagens. Empregou a mulher no Departamento dos Correios e Telégrafos, sem que ela precisasse trabalhar. Empresários e até “bicheiros” contribuíam para a caixinha do Anjo Negro. Com o dinheiro, o chefe da segurança pessoal de Vargas comprava imóveis.

Gregório foi engrossando mais e mais o pescoço, a ponto de exceder todos os limites. Tomava das mãos de oradores os discursos quando os considerava enfadonhos ou prolixos demais, afrontava a autoridade de oficiais das forças armadas, barrava autoridades e parentes de autoridades que se aproximavam do Presidente Vargas, agredia religiosos, etc.

O atentado a Lacerda (atingido na perna) e a morte do major Rubens Vaz, da Aeronáutica, arquitetado e operacionalizado por homens da guarda pessoal de Vargas, precipitaram os fatos, lançando o Anjo Negro na sarjeta e levando o Presidente a uma sinuca política, da qual ele saiu tirando a própria vida.

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