Henrique Lott: mau candidato
O marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott foi um militar competente e correto, um homem de comportamento exemplar, um eficiente Ministro da Guerra e um mau candidato a Presidente da República.
A candidatura presidencial do militar, em 1960, por sinal, nasceu de uma jogada estratégica de Juscelino Kubitschek. Mal planejada, como a história demonstrou, mas que à época parecia ser bem ajustada, afinal, pensava JK, não era adequado eleger o seu sucessor, porquanto o novo mandatário assumir um país com economia precisando de fortes ajustes, quase todos eles exigindo medidas impopulares. Logo, a eleição de um oposicionista seria o ideal, porque permitiria a JK voltar candidato, em 1965, como oposicionista contra um candidato situacionista apoiado por um Presidente impopular.
A candidatura de Lott tinha muitas ambiguidades, afinal o candidato era anticomunista ferrenho, mas tinha Prestes como cabo eleitoral; deu sustentação política-militar ao Presidente Juscelino Kubitschek e foi por ele cristianizado durante a campanha; o seu partido, o PSD, não tinha bases militares de sustentação, etc.
Acima de tudo, Lott era um homem politicamente ingênuo e espontâneo, a ponto de o jornalista e político da UDN Carlos Lacerda dizer que ele, por si mesmo, incumbir-se-ia de se derrotar, pois suas célebres gafes, em grande medida provenientes de suas qualidades pessoais movidas pelo sentimento do dever e a honra, trombavam com o universo malandro, escorregadio e mesmo hipócrita da política.
Negava-se a adaptar seus discursos e falas ao lugar e tipo de atividade da assistência. Era comum criticar a URSS e o PCB quando falava para plateias esquerdistas e recusava-se a receber empresários que queriam financiar sua campanha sob o argumento de que não desejava “misturar política e dinheiro”.
Certa feita, falando a pecuaristas goianos afirmou que um dos grandes problemas de abastecimento do mercado com nossa carne era que os brasileiros tinham mania de “comer o traseiro”, preferido pelo mercado externo. Era necessário, então, convencer o brasileiro a comer o dianteiro e exportar o traseiro. O riso de todos era franco e o candidato não entendia o motivo.
Aos pequenos produtores de café disse que a pequena agricultura era inviável e aos representantes da indústria automobilística declarou que, se continuassem praticando aqueles preços, não sobreviveriam. Chateado, JK perguntou por que Lott dissera aquilo e a resposta foi rápida e direta: “Porque é verdade”.
O resultado foi vitória avassaladora de Jânio Quadros, candidato oposicionista, tal como calculou JK. O cálculo, porém, não levou em consideração outras variáveis e a renúncia de Jânio sete meses depois de se sentar na cadeira presidencial precipitou os acontecimento e o próprio JK foi excluído da política, cassado pelo Presidente Castello Branco, alçado ao Planalto por um movimento civil-militar que golpeou o mandato de João Goulart, sucessor de Jânio.