A ignorância como virtude

por Sérgio Trindade foi publicado em 26.dez.17

Caminhamos para 2018, ano de eleições, com aspirantes ao mandato presidencial tecendo loas à ignorância.

Já tivemos muitos presidentes. Alguns inteligentes e preparados, outros sabidos e despreparados.

Um dos mais ignorantes e estúpidos foi sem dúvida Hermes da Fonseca, que fez do que seria uma falha uma virtude.

Sim, Hermes virou Presidente da República por ser estúpido e ignorante e, portanto, manobrável pelo senador gaúcho Pinheiro Machado, então um fazedor de presidentes.

Apelidado de Dudu pelos cariocas, sempre malandros e gozadores, o gaúcho de ascendência alagoana Hermes da Fonseca assumiu a Presidência da República após vencer o legendário Rui Barbosa, o Águia de Haia, no primeiro pleito presidencial de fato da República Velha.

Rui venceu nas urnas por 200.259 votos contra 126.392 dados a Hermes, mas a corrupta e impiedosa Comissão de Verificação de Poderes do Senado, dominada por Pinheiro Machado, subverteu a contagem dos votos e atribuiu a vitória ao militar gaúcho. A contagem final deu 403 mil contra 222 mil, e o culto tribuno baiano acabou derrotado pelo tacanho e estulto militar gaúcho.

Para Pinheiro Machado era mais adequado um inepto como Hermes sentado na cadeira presidencial a um luminar das letras como Rui Barbosa.

A história provou que Pinheiro Machado estava certo. E isso foi ruim para o Brasil, caído no colo de um néscio controlado por um sacripanta.

Há um vasto anedotário que demonstra a estreiteza intelectual de Hermes, que praticamente entregou o comando do país na mãos de Pinheiro Machado, conforme diálogo abaixo, travado entre o Presidente e o seu vice e futuro sucessor, o mineiro Venceslau Brás:

– Olha, Venceslau, o Pinheiro é tão bom amigo que até governa pela gente.

O Presidente que queria pretendia um curso de patologia para ensinar as pessoas a criar patos, teve um diálogo, relatado no Folclore Político, de Sebastião Nery, que dá a dimensão de sua largueza intelectual.

Acamado, Hermes da Fonseca recebeu a visita de Pinheiro Machado. Como o quarto estava escuro e abafado, o senador disse:

– Assim vossa excelência não se cura, presidente.

– Por quê?

– Porque vossa excelência fica aí com estas janelas hermeticamente fechadas.

Meses depois, o Presidente faz visita ao senador Pinheiro Machado, adoentado.

– Assim o senhor não se cura, senador.

– Por quê?

– Porque o senhor fica aí com estas janelas pinheiristicamente fechadas.

 

 

Por Sérgio Trindade

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