O golpe de 1964 foi movimento civil-militar (3)
Foram três os chefes civis mais destacados do golpe que derrubou o Presidente João Goulart, em março/abril de 1964, todos governadores de estado: Adhemar de Barros (São Paulo), Carlos Lacerda (Guanabara) e Magalhães Pinto (Minas Gerais).
Entre os três, porém, Magalhães Pinto foi o que mais se destacou, desde os preparativos iniciais e também e principalmente pelos vínculos internacionais que manteve.
O governador mineiro temeu, desde o início, os rumos que o governo João Goulart poderia trilhar. Com prudência, como era comum aos políticos mineiros da velha guarda, articulou a conspiração e aguardou, paciente e comedidamente, a oportunidade para deflagar o movimento.
Em A Revolução de Março em Minas, José Monteiro de Castro e Osvaldo Pierucetti registram fala de Magalhães Pinto: “Na verdade, desde os idos de agosto de 1961, a posse do Vice-Presidente João Goulart, considerada inviável pelos chefes militares e por um grupo de líderes políticos reunidos na casa do Dr. Padro Kelly, no mesmo dia da renúncia de Jânio Quadros, pareceu-me uma temeridade para as instituições do País. Julguei, porém, imaturo – e os fatos me deram razão – contestá-la pelas armas naquele primeiro momento, pelo risco de uma guerra civil que ensanguentaria a Nação, e pela falta de conscientização da opinião popular sobre o problema.”
Foi justamente a cautela que levou o governador de Minas Gerais a telegrafar ao governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, cunhado de Jango e líder do movimento em defesa da posse do Vice como Presidente, afirmando que “a atitude do Governo e do povo de Minas tem sido coerente com o nosso passado, (…) da defesa intransigente do regime que a todos nós cumpre preservar e aprimorar.”
Empossado Jango, logo Magalhães Pinto começou a manifestar preocupação com “os propósitos do Presidente”, que “indicavam rumos perigosos” que deixavam “no ar indagações inquietantes”, mantendo o povo decepcionado. Daí em diante, iniciou contatos com governadores e outras lideranças políticas visando minar a estabilidade do governo, caminho para a destituição do Presidente.
Já em março de 1962, o governador mineiro apontou “descaso do poder central por Minas Gerais” e registrou o intento de percorrer todo o estado e mesmo outros estados para anunciar o seu descontentamento com o tratamento dispensado pelo governo federal do povo mineiro.
O conflito entre o governador de Minas Gerais e o Presidente da República acentuou-se ao longo do anos de 1962 e 1963 e ganhou contornos mais nítidos, empurrando Magalhães Pinto para o caminho do golpe.
A chegada do general Mourão Filho, de tradicional família diamantinense, para chefiar a Exército em Juiz de Fora fez o golpe tomar forma e os planos foram se tornando “mais minuciosos” e transformaram “Minas em uma fortaleza de resistência” ao que eles chamavam de política subversiva do governo federal. Contatos foram mantidos “com outros Governadores e preeminentes figuras da área militar”, demonstrando que o governador e Mourão Filho não estavam solitários no propósito de depor o Presidente da República.