A política potiguar e o anedotário político 5 – Rubão e João Saldanha
Rubens Lemos foi uma das grandes referências no jornalismo e na política do Rio Grande do Norte entre os anos 1960-90.
Certa feita, numa aula na UFRN, no início deste século, o professor e jornalista Vicente Serejo disse que Rubão foi, entre todos os que conheceu, o jornalista mais completo, o único capaz de pôr, sozinho, um jornal nas bancas.
Militante comunista nos anos 1960-70, Rubão foi perseguido e exilado pelo regime de 1964. No início dos anos 1980, ajudou a fundar o PT no Rio Grande do Norte e foi candidato a governador, em 1982, pela legenda.
O gaúcho João Saldanha também foi um quadro histórico do PCB e se tornou uma lenda do jornalismo e do futebol nacional.
Ex-dirigente do Botafogo de Futebol e Regatas, do qual também foi treinador, foi o responsável por montar a base da Seleção Brasileira que se classificou para faturar, no México, o terceiro título mundial. Não permaneceu à frente do escrete canarinho por desavenças com o então Presidente da República e ditador de plantão Emílio Garrastazu Médici, que insistia na convocação do artilheiro Dario, então comandante de ataque do Atlético Mineiro. Sem abrir brecha para intromissão no seu trabalho, Saldanha disse que Médici mandava no ministério e ele, no selecionado canarinho.
Há menções sobre uma das raras vindas de João Saldanha, o João Sem-Medo, a Natal. Ali pelos anos 1970.
Em evento organizado pelos jornalistas de Natal, João Saldanha, a frente do seu tempo, defendeu a não obrigatoriedade do diploma de curso de jornalismo para o exercício da profissão e uma jovem jornalista, sem disfarçar o mal-estar, questionou-o. Sem titubear e incentivado pelo colega Rubão, que ao seu lado lhe serviu mais uma dose de uísque, explicou calma e pausadamente:
– A Seleção Brasileira fazia excursão pela Europa e África, em 1963. Os resultados eram ruins e depunham contra o time que conquistara, no ano anterior, o bicampeonato em campos chilenos. Fomos jogar na Argélia, que estava sob regime de exceção recém-instaurado. Os jornalistas ficaram restritos a uma sala e todas as matérias eram censuradas. Os militares que subiram ao poder eram de esquerda e eu, que sou um homem de esquerda mas de mentalidade democrática, estava doido para denunciar aquilo. Rascunhei o texto, fui ao teletipo e enviei o material com a seguinte insinuação: “A situação na Argélia está mais para Zagalo do que para Garrincha”. O pessoal do Jornal do Brasil entendeu e publicou, enquanto a concorrência engolia mosca.
Ao final da explicação, João Saldanha olhou para a moça e, para regalo de todos, sapecou:
– Sacanagem não se faz só na cama, entendeu, minha filha?
Nos dias de hoje, João Saldanha seria acusado de machista e misógino.