A política potiguar e o anedotário político 7 – distância de vermelho

por Sérgio Trindade foi publicado em 02.ago.23

Não lembro exatamente de todos os detalhes dos dois causos envolvendo a mesma pessoa e contados por Edvan Secundo, ex-prefeito de Lajes, na casa de praia do amigo Ademar, em Camurupim.

Não lembro o nome do personagem principal e por isso vou chamá-lo de José Mariano.

Corriam os anos 1960 e o Rio Grande do Norte estava, desde a campanha de 1960, quando Aluízio Alves se lançou ao Palácio Potengi, trombando com a liderança do então governador Dinarte Mariz, que patrocinava a candidatura de Djalma Marinho, dividido em duas cores, verde e vermelho.

Nem mesmo o golpe de 1964, que pôs sob o mesmo guarda-chuva as duas principais lideranças políticas do estado, então integrantes da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), impediu que os dois líderes e as duas cores disputassem a preferência do eleitorado potiguar. Eram os tempos da ARENA vermelha, de Dinarte Mariz, e da ARENA verde, de Aluízio Alves. Eram tempos de sublegenda, artifício criado pela ditadura para garantir que as principais lideranças políticas estaduais disputassem a preferência dos eleitores em seus redutos e pudessem apoiar o regime nascido da aliança entre os quartéis e a classe política.

O radicalismo dava o tom aqui no Rio Grande do Norte, separando amigos e familiares.

Foi neste contexto que o fazendeiro José Mariano, já escolado na política há pelo menos uma década e resistente às modernidades da cidade grande, viveu alguns dos casos mais hilários, entre os quais os dois contados por Edvan.

***

Certa feita, obrigado a vir a Natal resolver problemas no banco e andando em sua Rural pela Cidade Alta, José Mariano se deparou com um sinal de trânsito fechado. Sem pestanejar, o fazendeiro desobedeceu a sinalização e, quando alertado sobre a infração cometida, respondeu de pronto:

– Não quero nem conversa com vermelho. Todo mundo sabe que sou verde mesmo. Não sou verde como camaleão, que muda de cor para se esconder dos inimigos da mata. Se essa molesta de sinal inventar de me parar de novo, passo sem dar satisfação a ninguém, porque vermelho comigo não tem vez.

***

Já velho e vivendo entre a fazenda e a rua, como se diz no interior, José Mariano foi a uma mercearia, como de hábito, aos domingos, comprar a Tribuna do Norte, periódico que pertencia à família Alves. Como o preço do jornal era R$ 2,50 e o velho fazendeiro pagara com uma nota de R$ 5,00, o dono do estabelecimento falou:

– Seu José, eu não vou ter troco. O senhor quer levar O Poti?

Sem pestanejar, José Mariano devolveu:

– Me dê duas Tribunas.

Eram tempos em que não existia muro na política potiguar. Era verde ou vermelho, Aluízio ou Dinarte, Alves ou Maia. Tribuna do Norte ou Diário de Natal/O Poti.

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