A sucessão de Lavoisier Maia – parte 2

por Sérgio Trindade foi publicado em 09.set.20

A reforma partidária trouxe, dado o contexto no qual ocorreu a eleição de 1978 no Rio Grande do Norte, um ingrediente extra: a manutenção ou não da aliança política entre as duas principais famílias políticas do estado, Alves e Maia.

Como dissemos no texto anterior, a família Maia entrou no partido que apoiava o governo federal (Partido Democrático Social – PDS) e a família Alves se encaminhou para formar na oposição ao governo federal, tentando acomodar-se numa agremiação de oposição moderada, o Partido Popular (PP).

No entanto, a reformulação partidária apressou o fim da paz pública, tendo em vista o choque de interesses entre os dois grupos políticos.

Ao fim da eleição de 1978, as principais lideranças políticas – Aluízio Alves, Tarcísio Maia e Dinarte Mariz – começaram a se movimentar para enfrentar a nova realidade partidária.

A família Alves sofria forte oposição dentro do seu próprio partido, o MDB, principalmente daqueles que se tinham postos contrários à paz pública. Os principais integrantes da ala contrária à permanência dos Alves no MDB eram Agenor Maria e Francisco Rocha, que, influenciados por Dinarte Mariz, exigiam a expulsão de Henrique Eduardo Alves, acusando-o de ser um dos responsáveis pela derrota do partido oposicionista naquele ano, quando o candidato do MDB, Radir Pereira, perdeu a corrida senatorial para o arenista Jessé Freire.

Os Alves, porém, não entregavam os pontos e buscavam recompor a sua liderança no MDB, indicando Antônio Câmara para o liderá-lo na Assembleia Legislativa, que, vencedor, demonstrava o prestígio que o grupo familiar liderado por Aluízio Alves ainda gozava no seio do partido.

O governador Lavoisier Mais emitia sinais que indicavam a pretensão de manter a aliança vencedora no pleito de 1978. Entretanto, a indicação de José Agripino Maia, em 13 de janeiro de 1979, para ser prefeito de Natal, representou uma fenda considerável na associação entre as famílias Alves e Maia, pois trazia, quase sem disfarces, a pretensão de Tarcísio em fazê-lo governador em 1982.

Agnelo Alves, em conversa com este escriba em meados da década de 1990, afirmou que a indicação de José Agripino tinha um fim muito claro, fazê-lo governador do estado e isso inviabilizou a manutenção do entendimento diligentemente construído entre os dois grupos familiares e políticos, visto que aquilo representava “a formação, não de uma oligarquia, mas de uma dinastia, porque já fora [governador] Tarcísio, Lavoisier e, depois, José Agripino”, tese que será sofisticada e literariamente elaborada por Golbery do Couto e Silva, que dos Maia diz conhecer apenas os dois volumes de Eça de Queiroz.

O grande derrotado de 1978 foi Dinarte Mariz, pois, mesmo conquistando vaga de senador biônico, perdeu o comando do partido governista no estado.

O desgaste do senador seridoense tem ligação também com os eventos que ocorriam na política nacional.

Não é possível esquecer que Dinarte fazia parte da bancada que apoiava as pretensões presidenciais de Sylvio Frota, ex-Ministro do Exército e um dos principais porta-vozes da ala dura do regime e adversário do projeto de abertura política pilotado pelo Ministro-Chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, e pelo próprio Presidente da República, Ernesto Geisel. A dinâmica política engoliu Frota e Dinarte. Além disso, as arengas da política local afastaram Dinarte do governador Tarcísio Maia, pois o senador pleiteou a indicação de Dix-huit Rosado para o governo do estado e, não conseguindo o intento, decidiu não apoiar a candidatura de Jessé Freire, da ARENA, ao Senado Federal. Jessé teve no seu palanque Tarcísio Maia e Aluízio Alves, e Dinarte seguiu firme para a campanha do emedebista Radir Pereira.

A derrota de Radir Pereira, inclusive nos municípios em que Dinarte tinha ascendência eleitoral, sepultou a liderança inconteste do velho líder arenista no estado. As críticas que seu projeto de anistia sofreu de oposicionistas e de correligionários deixaram-no bastante abatido. A pretensão que tinha de permanecer liderando a ARENA no estado passou a ser contestada, inclusive pelas novas lideranças da agremiação situacionista, que pretendiam alçar o ex-governador Tarcísio Maia à presidência do partido no estado.     

A organização do Partido Democrático Social (PDS), que sucedeu a ARENA, ficou sob a reponsabilidade do governador Lavoisier Maia.

O PDS contou com os quadros da ARENA acrescidos de alguns membros do MDB.

Aluízio Alves ingressou no Partido Popular (PP) e Dinarte Mariz percebeu sinais de desgaste na aliança Alves-Maia, com a indicação de José Agripino para prefeito de Natal e com a filiação de emedebistas, antigos aliados da família Alves, ao PDS. Ademais, a manutenção do consórcio Alves e Maia era, em si mesmo, problemático num estado como o Rio Grande do Norte, tradicionalmente de embates entre partidos políticos dominados por famílias.

Matreiro, Dinarte, já filiado ao PDS, começou a elogiar o trabalho de Lavoisier Maia à frente do governo e na condução do processo de formação do partido governista no estado, visando se aproximar do grupo tarcisista no PDS, com o qual pretendia fumar cachimbo da paz.

José Agripino Maia e Aluízio Alves eram os virtuais candidatos ao governo do estado na virada da década de 70. Entretanto havia um problema de ordem política e matemática a resolver: permanecendo a aliança Alves e Maia, somente um poderia ser candidato. João Faustino, eleito deputado federal, em 1978, beneficiado pela indicação de Lavoisier Maia para o governo do estado, para evitar o rompimento, sugeriu a candidatura de Aluízio Alves para senador, em 1982. Para não ficar isolado na política estadual, principalmente após a reaproximação entre Dinarte Mariz e Tarcísio Maia, Aluízio Alves começou a sondar a possibilidade de uma aproximação política com a família Rosado, dividindo o PDS, assunto que abordaremos no próximo texto.

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