Meu Pai

por Sérgio Trindade foi publicado em 07.jan.22

Do ano passado para cá topei com duas referências a Avelino Matias, popularmente conhecido como Meu Pai, por assim tratar a qualquer interlocutor.

A primeira referência com a qual me defrontei foi Johnathan Trindade, meu ex-aluno do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), e morador de Brejinho, onde Meu Pai foi prefeito; a segunda, Arhur Dutra, advogado e comunicador, a quem entrevistei para o programa GuruCast (https://m.youtube.com/watch?v=HAfMTpPYztg), da TV Guru Papa-Jerimum (https://www.youtube.com/channel/UCyDZDwafway1JnpdQtTJpMQ). Arthur disse na entrevista, entre o minuto 11 e 12, que advogou, no início da carreira, para o município de Brejinho.

Avelino Matias, Meu Pai, foi um dos mais emblemáticos personagens do folclore político e uma liderança inconteste não somente no seu município, Brejinho, mas em todo o agreste potiguar. Cheguei a conhecê-lo num veraneio em Camuripim, na casa de meu amigo Ademar, ex-professor do Marista e muito próximo ao hoje deputado federal Benes Leocádio e à época prefeito de Lajes do Cabugi. Na oportunidade, rimos muito das histórias contadas por Meu Pai ou sobre ele, algumas já registradas por muitos, nem todas verdadeiras, mas que ele não as desmentia.

Lembro de três.

  • Um de seus filhos foi trabalhar no Rio de Janeiro e por lá levando vida boêmia, começou a namorar uma mulher madura e muito bem de vida. Culta e poliglota, a carioca ficou encantada com a simplicidade e o jeitão agrestino do jovem nascido no Rio Grande do Norte. Paixão avassaladora, juntaram as escovas, ela vendeu tudo o que tinha e arribou, com o mancebo, para Brejinho. Quando chegaram à cidade, o filho procurou o pai e apresentou a acompanhante: “Papai, quero que conheça minha mulher. É rica e parente distante do cantor e compositor Chico Buarque.” Meu Pai a tudo ouvia, em silêncio, de cenho franzido. “E pai”, continuou o filho pródigo, “ela fala cinco línguas.” Meu Pai deu um pulo, puxou o filho pelo braço para um canto da sala e disse: “Meu filho, se uma mulher com uma língua só faz um estrago da molesta, avalie com cinco. Você tá lascado.”
  • Durante o segundo governo de José Agripino (1991-1994), o Presidente José Sarney e a primeira-dama, dona Marly, visitaram o Rio Grande do Norte e foram recepcionados na residência oficial do governador. Por lá estava Avelino Marias, Meu Pai. O anfitrião, fazendo as honras da casa e querendo descontrair o ambiente, apresentou o líder agrestino à primeira-dama: “Dona Marly, gostaria que a senhora conhecesse Meu Pai, prefeito de Brejinho.” Sem pestanejar, dona Marly achando tratar-se verdadeira do pai do governador, estendeu a mão para os cumprimentos e disse: “O senhor está bem, doutor Tarcísio?”. Já ouvi a mesma história, mudando alguns personagens: o Presidente Figueiredo e dona Dulce no lugar de Sarney e de dona Marly.
  • O comício em Brejinho estava animado, quando Meu Pai fazia discurso inflamado: “Nós vai melhorar a educação de Brejinho. Nós vai melhorar a saúde do povo de Brejinho. Nós vai trabalhar pelos mais pobres. E nós vai ajeitar as estradas”. A filha, herdeira política e então prefeita do município, angustiada com os erros de concordância, interveio: “Pai, empregue o plural”. Incontinenti, Meu Pai atalhou: “Nós vai arranjar emprego pro Plural, pro pai do Plural, pra mãe do Plural, para toda família dele”.
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