Portugueses contra holandeses no Brasil seiscentista

por Sérgio Trindade foi publicado em 10.out.19

No dia 3 de outubro comemora-se a festa dos mártires de Cunhaú e Uruaçu, rumoroso caso envolvendo portugueses, holandeses e indígenas, quando holandeses e índios massacraram católicos luso-brasileiros.

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O fato é polêmico e tem despertado posições fortes de estudiosos, como o professor Alípio de Sousa Filho. http://substantivoplural.com.br/apocalipse-indigena-deveria-ser-lembrado-para-alem-dos-massacres-em-cunhau-uruacu/

No final de 1633, os holandeses, depois de uma feroz batalha em que desfecharam um cerrado bombardeio à Fortaleza de Santos Reis, venceram a resistência dos soldados portugueses e brasileiros, tomaram-na e ocuparam a capitania por 21 anos. Mas a presença flamenga no Brasil era instável. Visando facilitar o domínio da capitania do Rio Grande, os holandeses aliaram-se aos índios janduís, e passaram a perseguir as comunidades portuguesas.

Em 1637, com a chegada de Maurício de Nassau, a situação começou a se estabilizar. Durante o governo de Nassau não houve conflitos entre holandeses e portugueses por questões religiosas. Nassau concedeu liberdade de culto para os luso-brasileiros.

O período em que Maurício de Nassau governou o Brasil-holandês (1637-44) foi de significativo desenvolvimento econômico e, principalmente, um dos mais auspiciosos, em virtude da convivência até certo ponto amistosa entre luso-brasileiros e holandeses. Nassau renovou a administração colonial e foi relativamente tolerante com os católicos e os judeus, permitindo-lhes o livre exercício do culto. Porém, após a sua partida, os holandeses passaram a perseguir os católicos, inclusive matando alguns missionários.

Em 1645 as relações entre holandeses e luso-brasileiros estavam se deteriorando. A insurreição começou em junho daquele ano; o clima político ficou mais favorável para a difusão do movimento insurrecional após a partida de Nassau e a instituição de novos governantes sem a mesma eficiência e lucidez. Em virtude da escassez de alimentos, os holandeses saqueavam as propriedades e incitavam os índios contra os portugueses, como forma de diminuir a população, e equacionar o problema da falta de comida. Conseguiram, em parte, seus objetivos, lançando os índios janduís contra os portugueses e seus aliados potiguares.

A tática holandesa junto aos indígenas foi a das boas relações. Alguns índios foram estudar na Holanda, como o chefe potiguar Antônio Paraopaba, um dos comandantes do massacre de Uruaçu, Pedro Poti e outros. Como delegado holandês frente aos janduís encontrava-se um alemão chamado Jacob Rabi, funcionário dos holandeses e responsável pelas maiores atrocidades cometidas durante o domínio flamengo.

Os massacres deram ensejo a uma nova etapa na reação luso-brasileira contra a presença holandesa no Brasil. Os massacres maximizaram a reação. Depois da onda de massacres executada pelos holandeses, os luso-brasileiros reagiram, organizando expedições punitivas contra os flamengos, destruindo as suas propriedades, assassinando os seus funcionários e espalhando o terror no Nordeste holandês, principalmente no Rio Grande (do Norte).

As forças portuguesas e brasileiras utilizaram a mesma tática de “terra arrasada” posta em prática pelas forças holandesas e aliadas, consistindo na destruição de engenhos e canaviais, roubo de escravos e de gado, além de mortes, muitas mortes de holandeses.

Segundo historiadores como Câmara Cascudo, Tavares de Lyra, Tarcísio Medeiros, Denise Monteiro e outros, as ações de represália aos massacres não tardaram. Em fins de 1645, João Barbosa Pinto apareceu em Cunhaú e vingou todo o sangue derramado, atacando os holandeses e seus amigos que ali residiam; na noite de 05 de abril de 1646 Jacob Rabi foi assassinado a tiros e golpes de espada, em Natal; em 05 e 06 de janeiro de 1648, Henrique Dias, o glorioso negro Mestre de Campo, atacou os holandeses em Guaraíras (Arês), matando muitos holandeses, os seus escravos e os seus aliados indígenas; em agosto de 1651, mais uma vez João Barbosa Pinto reaparece em Cunhaú, sendo seguido pouco depois por Antônio Dias Cardoso que, sabendo da intenção dos holandeses de fazer funcionar aquele engenho, incendiou tudo, impedindo o seu funcionamento.

O resultado desse clima de insegurança na capitania levou os portugueses e brasileiros a migrarem para as capitanias vizinhas. Os povoados da capitania do Rio Grande foram abandonados. Somente depois de anos de batalhas sangrentas e de massacres de parte a parte, os holandeses se renderam em Recife, em 1654, o que permitiu o restabelecimento do domínio português no Rio Grande (do Norte).

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