Dissonância
O texto abaixo foi escrito por um ex-aluno, Jivago Macedo, de e por muitos anos, entre os últimos da década de 1990 e o início dos anos 2000, no Complexo Educacional Henrique Castriciano.
Hoje, Jivago é competente psicólogo.
Tem gente chamando as pessoas que criticaram a MP de burros.
Eles dizem: “Como assim preferem ficar desempregados agora do que manter os benefícios por 4 meses e depois ter seu emprego de volta?”
Aí, logo em seguida, a mesma pessoa diz: “É verdade que a maioria das pessoas não tem como se manter por 4 meses…mas ainda assim, como podem preferir ficar desempregado correndo o risco de não conseguir um emprego com o mesmo salário e benefícios no futuro? Burros! Assistencialismo!”
Na psicologia cognitiva se diz que há dissonância cognitiva quando um pensamento se contrapõe a um comportamento, gerando um desconforto interno que a pessoa buscará amenizar e assim reestabelecer congruência entre si e o ambiente. Exemplo, se sabe que é errado parar em vaga de deficiente mas uma pessoa não encontra vaga e estaciona. Para não se sentir culpado, ou não ter que lidar com a ideia de que talvez não seja uma pessoa tão ilibada quanto pensa ser, ele pode tentar amenizar dizendo que “todo mundo” faz isso ou que foi por apenas alguns poucos minutos.
Todo mundo sabe que não há condição de um assalariado ficar 4 meses sem renda alguma. Mas dane-se as evidências, não é mesmo? Farinha pouca, meu pirão primeiro.
A verdade é que se a economia parar como se desenha, muitas demissões vão acontecer. Mas muitos empresários não tem caixa pra pagar tantas rescisões, principalmente sem estar faturando. Por sua vez, o governo também não quer ter seus indicadores econômicos despencando e nem quer pagar uma fortuna de seguro desemprego enquanto a arrecadação é baixíssima.
Mas, contraditoriamente, para alguns que são a favor da MP o assalariado pode sim ficar 4 meses sem qualquer renda.
Quem garante o emprego dessas pessoas após 4 meses? Quem garante que a crise terminará em 4 meses? Que ótimos benefícios e salários são esses que as pessoas não deveriam querer perder?
Não vejo uma saída se não for através da intervenção do Estado protegendo empresas e empregados. Não só um, não só o outro. Quando o subsídio é para o empregado se chama em tom pejorativo de assistencialismo. E quando o subsídio é para o empregador é o que?
Resolvam aí essa dissonância.
Por Jivago Macedo