A pandemia e minha guinada à esquerda

por Sérgio Trindade foi publicado em 22.jan.21

O texto abaixo é do amigo Luiz Roberto, professor de Filosofia do campus Natal Zona Norte (IFRN)

A pandemia e minha guinada à esquerda

Infelizmente, como não sou uma pessoa dotada de maiores capacidades intelectuais e retóricas, em igual medida às de alguns indivíduos progressistas que conheço, sou obrigado a tratar, neste texto que segue, do assunto mais batido, do qual se fala repetida e incansavelmente nos últimos dez ou onze meses. É, ele mesmo, o corona!

E o pior de tudo isso é que, como uma infinidade de gente domina o tema mais do que eu, e de forma mais aprofundada, provavelmente serei monocórdico e cansativo, além de primário.

Mas, danem-se vocês, que perdem tempo lendo o que eu escrevo!

Não, não danem-se! Pelo menos não antes de terminar de ler o que escrevi.

Juro que tenho boas novas para todXs.

Vou tentar dar uma abordagem nova sobre o tema, que pode estar associada ao meu perfil filosófico-político-ideológico. É, isso mesmo, babem – de prazer ou de raiva!

Olhem, todos estes meses, recebendo as mais diversas informações, às vezes absolutamente contraditórias, sobre “ciência” (hummmm, a sienççia), política e PANDEMIA, deixaram-me profundamente confuso. Fiquei melancólico por conta disso. Tal confusão me fez perder alguns cabelos e ganhar outros tantos embranquecidos, como uma raposa que ficasse com os pelos descoloridos. Mas, eis que cheguei ao bom termo da minha agitação intelectual, e tomei algumas decisões. Decisões ideológicas e sanitárias, para falar a verdade.

Vou tentar explicar.

Fui um progressista durante a maior parte da minha vida adulta. Depois disso, há alguns anos, em razão de perceber certas práticas, ler bons textos, meditar sobre várias coisas, dei uma guinada à direita liberal e, principalmente, conservadora. Acho até que sou um reacionário, já que muitos coleguinhas dizem isso de mim (a bem da verdade tais coleguinhas não entendem nada do que falam). Mas acato a alcunha, da mesma maneira que Nelson Rodrigues aceitava. Portanto, sou reacionário porque reajo – contra tudo que não presta…

Mas hoje, isso tudo são águas passadas. Agora, novamente, sou um homem moderno. Renovado em razão da pandemia do vírus que chamo chinês. Ohhh, não posso falar isso. Pandemia de Covid 19. Perdoem-me! Aos poucos estou tentando melhorar.

A pandemia me mostrou, nos últimos tempos, que devemos lutar por uma cura para todos. Eis que, pelo que vejo na mídia nacional e internacional, a cura chegou, como uma doce e translúcida luz no fim do túnel. Para ser preciso, a luz é a notícia da suposta chegada das diversas vacinas divulgadas por aí.

Mas, esse ainda não é o pulo do gato para mim. Ele virá agora.

Se esta maldita doença é tão séria quanto se nos mostra o tempo todo, se ela é tão perigosa para a humanidade, de tal forma que os “espíritos” tranca rua nunca foram tão invocados e comemorados sob a alcunha charmosa de lockdown, se nunca tantas máscaras caíram (gostaram do trocadilho?), se, e somente se, por tudo isso, e muito mais, que foge à minha memória e parca inteligência no momento, digam-me uma coisita só: por qual motivo, os laboratórios dos “burgueses capitalistas” devem ganhar milhões, bilhões com as vacinas? Pergunta retórica, não é necessário responder. Quero só mostrar o quanto estou indignado.

É, é isso que leram mesmo, tornei à esquerda por conta da necessidade de tentar manter algum nível de coerência. Vez que, se o mundo precisa de algo bom, logo, os tiranetes, os tranca rua, os quarentenários místicos, ou melhor, os governantes de plantão, deveriam juntar-se para discutir e decidir. E, na hipótese mais leve, determinar que as patentes das vacinas sejam quebradas. Na pior das hipóteses, socializar os meios de produção das vacinas, a saber, os laboratórios, e obrigá-los a produzir gratuitamente para todXs. E não apenas gratuitamente, mas de maneira socialmente referenciada (não sei o que isso quer dizer. Já escutei tanto imbecil usando essa frase de efeito, que me veio o anseio mimético de usá-la aqui), para que a vacina seja distribuída para todXs os mais de sete bilhões de desafortunados que convivem amontoados neste maravilhoso planeta.

Se precisamos tanto de uma vacina assim, não existe outra solução que não seja a socialista. Por isso, declaro, em alto e bom som: sou progressista novamente.

Já que o bom filho à casa torna, quero que Marx, Engels e todos os outros sintam orgulho de mim por encontrar a solução para salvar a humanidade da peste. Ainda que a medida pareça estúpida, como estúpida é a maior parte do que propõem os camaradas e companheiros (vigi, será que alguma força me empurra em direção às ideias conservadoras e reacionárias?).

Finalizo da mesma maneira que terminei um diálogo com o amigo Sarraceno: Saudações Camaradas Companheiros do mundo.

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