Ainda sobre a vergonha aritmética das inserções e outros assuntos
Escrevi sobre a vergonha aritmética por que passou o Ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao denunciar que a campanha do Presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, teve em torno de 154 mil inserções a menos nas rádios do Brasil do que a de seu adversário, o ex-Presidente Lula.
Não discuto elementos pontuais do relatório apresentado pelo Ministro, mas o frágil núcleo da acusação. Também não discuto se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deveria ou não acatar a denúncia, ainda que frágil, tendo em vista o açodamento, para usar eufemismo, do Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e ora Presidente do TSE para processar e mandar prender empresários que, em grupos de aplicativos de mensagem, tramavam, segundo ele, contra o regime democrático.
Minha intenção, aqui, é só mostrar a fragilidade dos números, para dizer o mínimo, como eu já disse d’outra vez (http://historianosdetalhes.com.br/politica/aritmetica-criativa/).
A petição encaminhada ao TSE afirma que a campanha do ex-Presidente Lula teve, durante o segundo turno do pleito, cem horas a mais de inserções nas rádios, em uma semana, quando todas as inserções durante os 23 dias de campanha, no segundo turno, perfazem 9 horas e 35 minutos, a serem divididas entre os dois candidatos.
Não sei exatamente o que pensava Fábio Faria e o núcleo-duro da campanha bolsonarista, deixo isso para analistas políticos de peso, quem têm informações de bastidores, ou para levianos, mas a base sobre a qual pretendiam atuar, a saber, a denúncia de fraude nas inserções da propaganda política nas rádios, está se mostrando desastrosa. Exceto, se houver elementos mais consistentes e que ainda não vieram à tona.
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Se nada ocorrer de novo e se as pesquisas eleitorais da maioria dos institutos estiveram certas, o ex-Presidente Lula ganha a parada domingo.
A vitória de Lula e a derrota de Bolsonaro reproduzem um sistema de terço. Ou seja, Lula e seu grupo têm 1/3 do eleitorado brasileiro, com forte concentração no Nordeste; Bolsonaro também tem em torno de 1/3, distribuídos pelo centro-sul. Ambos brigaram pelo terço restante, formado por eleitores que eram anti-Bolsonaro ou anti-Lula. Quem conseguir se esconder melhor – e parece ter sido Lula – vencerá.
O Nordeste, que um dia era acusado pelos eleitores do PT de ser reduto da ARENA/PDS/PFL, mudou de lado; o Centro-Sul, em grande parte reduto dos partidos de esquerda e centro-esquerda, virou de lado. Nem o Nordeste evoluiu, tampouco o Centro-Sul regrediu. Escreverei sobre isso logo após o pleito do próximo domingo.