Amor a facas e balas
Semana passada, o jornalista Eduardo Bueno (Peninha) postou um vídeo ironizando o assassinato de Charlie Kirk, ativista norte-americano de direita. Um onda avassaladora se abateu sobre Peninha, com muita gente propondo que ele seja processado, que suas redes sociais sejam suspensas, etc. Falo e escrevo o que penso e, assim, defendo a liberdade de expressão para todos. Só ela nos permite saber que há gente como Peninha, um homem de esquerda, daquela esquerda que se considera moralmente superior, propondo que se festeje a morte de um ativista político. Peninha se retratou (https://www.terra.com.br/noticias/brasil/politica/eduardo-bueno-se-retrata-apos-ter-evento-cancelado-por-ironizar-morte-de-charlie-kirk,832ff191ad5ee018a138956817e37c2al5b1az17.html), talvez porque tenha realmente se arrependido, talvez porque queira se livrar da pecha de radical de esquerda.
Há gente de esquerda que festeja a morte de gente de direita e há gente de direita que festeja a morte de gente de esquerda. Nenhum dos polos políticos detém o monopólio da virtude, mas…
Desde a facada em Jair Bolsonaro, em setembro de 2018, multiplicaram-se no mundo os atentados contra lideranças alinhadas à direita ou ao centro-direita. Quem analisa com seriedade percebe uma lista impressionante de vítimas: Donald Trump, alvejado em um comício nos Estados Unidos; Shinzo Abe, ex-primeiro-ministro do Japão, morto a tiros em plena rua; Andreas Jurca, político alemão, assassinado a golpes; Alejo Vidal-Quadras, baleado em Madri; Michael Stürzenberger, ativista na Alemanha, esfaqueado; Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, atingido por disparos; Miguel Uribe, senador colombiano, atacado; Iryna Zarutska, militante ucraniana, ferida; e, mais recentemente, Charlie Kirk, nos EUA, alvo de violência planejada. Confesso, não conhecia quase nada sobre quase todos. A internet, esse mundão de informação e conhecimento, forneceu-me as informações de que precisava.
Não preciso concordar com as ideias da turma acima nominada para reconhecer que a sucessão de casos é forte. Parece evidente que políticos conservadores e liberais demais para o gosto da patrulha progressista vêm sendo escolhidos como alvo. Mas não é tal constatação que me move, mas a forma como a imprensa reage aos casos.

Imagem feita com auxílio de IA
Quando um líder conservador é atacado, surgem três movimentos imediatos: 1) minimiza-se a motivação política do agressor; 2) recordam-se frases ou posições do próprio agredido, como se merecesse o que sofreu; 3) a narrativa conclui que a direita, no conjunto, é que representa perigo, o que leva ao deslocamento da vítima para o banco dos réus.
Bolsonaro sobreviveu por milagre – mas ainda enfrenta as sequelas da facada adelista. Trump escapou por centímetros da morte. Robert Fico só está vivo porque médicos agiram rapidamente. Abe não teve a mesma sorte: foi assassinado em 2022. Andreas Jurca tombou na Alemanha. Esses casos seriam suficientes para deflagrar uma onda global de indignação se os alvos fossem políticos de esquerda. Mas, como são de direita, prevalece o silêncio cúmplice.
A imprensa ocidental, que costuma erguer monumentos quando um esquerdista é atacado, limita-se a notas insossamente burocráticas quando a vítima é conservadora. Shinzo Abe foi tratado como mais um episódio trágico, sem relação com a intolerância que a esquerda cultiva. Fico virou estatística. Bolsonaro, até hoje, enfrenta narrativas que relativizam o atentado, como se tivesse se esfaqueado sozinho. Muitos dizem, jocosamente, que foi uma fakeada, ou seja, uma facada fake.
A distorção é gritante. Se sucessivos líderes progressistas tivessem sido baleados, esfaqueados ou espancados em menos de duas décadas, é provável que houvesse teses sobre uma conspiração fascista internacional. Conferências acadêmicas, editoriais inflamados e séries documentais não faltariam para denunciar a violência da direita. Como as vítimas são conservadores (alguns até reacionários), tudo se resume a episódios isolados, explicados por surtos psicológicos ou “desajustes pessoais”, sem contar que há quem ache todos eles merecedores da “sorte” que tiveram.
O caso de Trump é emblemático. Após o atentado, multiplicaram-se análises sobre como o ex-Presidente dos Estados Unidos “radicaliza a sociedade”, como se o autor do disparo tivesse agido em legítima defesa. Bolsonaro, por sua vez, até hoje é descrito como beneficiário eleitoral da facada, como se a tentativa de homicídio fosse uma estratégia de marketing. É a completa inversão moral – construída pelos virtuosos de salas de aula, de redações de jornais, de artistas conceituados, de intelectuais de nomeada.
Não se trata de negar que exista radicalismo na direita. Existe – e deve ser repudiado, assim como existe na esquerda – e igualmente deve ser repudiado. Ou um pode radicalizar e o outro não pode? A diferença está no tratamento dado pela opinião pública e pela mídia aos radicalismos de cada lado. Quando um extremista de direita age, o caso é apresentado como prova da natureza violenta de todo o espectro conservador. Quando um extremista de esquerda ataca, é apresentado como exceção, como alguém que saiu da curva, sem qualquer implicação para o campo progressista.
O resultado é um desequilíbrio evidente. Conservadores que levam tiros ou facadas são imediatamente culpabilizados pelo ódio que sofrem. Progressistas agredidos, mesmo por motivos alheios à política, são transformados em mártires.
Essa assimetria precisa ser exposta e denunciada. O debate democrático não sobrevive quando um dos lados é sistematicamente retratado como culpado até quando sangra. A violência contra conservadores pode até ser um acaso, mas é inegável que ela tem se repetido em diferentes países, com diferentes métodos, mas com o mesmo alvo. E a complacência da imprensa não apenas esconde esse padrão, legitima-o.
A direita não pede privilégios. Pede apenas que os fatos sejam reconhecidos. Quando um conservador é atacado, isso deve ser tratado como violência política, e não como pretexto para reforçar a narrativa de que a vítima é a verdadeira ameaça. Ignorar esse dado é, para dizer pouco, uma fraude intelectual.
Em duas décadas, os atentados contra líderes conservadores parecem revelar mais do que intolerância. Mostram que o discurso da ternura e do amor progressista convive bem com a faca e a bala. E mostram também que a grande imprensa, ao invés de assumir a gravidade do problema, prefere apontar o dedo para quem apanha. É esse duplo padrão que mantém de pé a farsa da esquerda terna e amorosa, em oposição a uma direita raivosa e nefasta.