Do Companheiro Impeachment ao Doutor Poste
Tenho três amigos com os quais sempre discuto sobre política.
São daqueles amigos dos quais sempre podemos discordar sem que eles achem que a discordância seja desrespeito ou desconsideração.
Quando, em 2015-16, Dilma se equilibrava na corda-bamba para manter-se sentada na cadeira presidencial, dois deles vibravam e um outro mantinha-se desconfiado com a possibilidade de a petista cair. Este era o que estava mais próximo do que eu pensava.
Desde o início da crise que culminou com o impeachment, fui contra a derrubada da presidente. E o era não porque achasse Dilma limpa, incorruptível, uma Robespierre de saia. A minha oposição ao impeachment era mais pragmática; no chão, o PT e seus satélites (partidos e movimentos de esquerda) seriam mais danosos, daquele momento até 2018, na oposição do que no poder.
Pensava assim porque era claro que o governo, fosse ocupado por Dilma, por Temer ou um ET, teria de fazer o ajuste fiscal, que exigia medidas extremamente impopulares.
Dilma já se movimentava para fazê-lo, tendo sido este um dos motivos de seu desgaste político, afinal venceu dizendo uma coisa e tendo de fazer outra. O problema adicional dela: não podia mais praticar o populismo fiscal que fizera no primeiro mandato. Tampouco avançava para fazer o ajuste fiscal.
Perdida no limbo, foi alvo fácil para os corvos do ex-PMDB, Michel Temer, Moreira Franco à frente.
Temer, ao assumir, também ensaiou os ajustes, mas parou logo, cedendo a interesses legítimos e a alguns cartoriais e inconfessáveis. A sua impopularidade oceânica o faz parecer um leproso, com qualquer ser político que pretenda sobreviver correndo a léguas de distância dele.
Na oposição, o PT passou a acusar todas as medidas de rigor fiscal como injustas, torcendo para que o governo se mobilizasse para fazê-las e, portanto, assumisse o ônus do desgaste político, que chega montado a cavalo nas eleições deste ano.
O próximo presidente da república terá de queimar grande parte do capital político amealhado no pleito deste ano pondo em ordem as contas públicas.
Não é uma questão de escolha. Não é uma questão ideológica. É contábil, escorada na boa e velha aritmética.
Gostaria de ver quem torce o nariz para os dados contábeis tendo de explicar para o eleitorado que o enganou, que cometeu estelionato eleitoral.
O filme já passou. Todos assistimos. Há, porém, quem finge não conhecê-lo e há quem não o conheça mesmo. POr isso, o companheiro Impeachment é um dos grandes eleitores deste 2018.
Voltaremos, em 2019-20, a 2015-16. E em ambiente ainda mais envenenado, com a possibilidade de um novo Poste aboletado na cadeira presidencial.
Desta feita, o Poste é Doutor. Um Doutor Poste. Pior, porém, que o Poste anterior, porque, sejamos justos, Dilma Rousseff assumiu como Poste, mas ganhou vida própria e, para o bem e para o mal, foi ela mesma durante quase todo o tempo que “dirigiu” o país.
O papel exercido por Fernando Haddad, professor doutor da Universidade de São Paulo, intelectual festejado pela esquerda, que um dia já foi visto como uma promessa de renovação dos costumes políticos, é, para dizer o mínimo, constrangedor.
Desde que foi lançado candidato (?!), Haddad finge que o é, mas sabe não sê-lo, pois o candidato inarredável do PT é o ex-presidente Lula.
Mesmo que Lula não seja candidato e o ex-prefeito de São Paulo e uspiano de escol ocupe a cabeça-de-chapa, Haddad sabe que não é protagonista, mas um ventríloquo do hoje encarcerado ex-presidente da república. Ressalte-se que o próprio Haddad não parece constrangido com o papel que desempenha.
Não se forja lideranças assim.
Do Poste de 2010 para o de 2018 caminhamos rumo à insensatez, pois o eleitor brasileiro corre o risco de votar em Haddad e ser governado por Lula, numa clara e evidente conspurcação da legitimidade democrática. Perderemos, como já afirmou um estudioso de política, o espaço da eleição, que serviria “para estabelecer um pacto entre sociedade e o próximo governo a ser empossado” http://opotiguar.com.br/lula-contra-lula/
Na ânsia de se provar inocente, Lula avilta e corrompe o pleito eleitoral e ameaça destruir a Presidência da República, pois, vitorioso, Haddad será tutelado por Lula.
A marcha da insensatez é tamanha que, ganhando qualquer outro, Lula irá infernizá-lo.
Tempos ainda mais difíceis nos aguardam.
Por Sérgio Trindade