Eu tinha um colega que sabia de tudo
Corria o ano de 2005, quando eu encontrei com um colega de trabalho na sala dos professores de uma faculdade privada (hoje centro universitário) de Natal e levamos um bom papo sobre política.
Lá pras tantas, o cara disse que um primo dele, funcionário em algum gabinete de Brasília, lhe contara que o PT estava comprando apoios no Congresso Nacional, com dinheiro vivo. Para não inchar o partido com figuras oriundas de partidos de direita e de centro, disse-me o colega, José Dirceu ordenara que os que se alojassem em agremiações da base aliada seriam agraciados com uma mesada generosa.
Imagino que o primo de meu colega fosse um homem bem informado e sei que o meu colega gostava de aparentar saber dos bastidores da política, pontificando, quase sempre, como um analista criterioso e ousado.
Não se passou muito tempo e estourou o escândalo do mensalão, quando Roberto Jefferson saiu das profundezas do PTB, partido da base do governo Lula, e denunciou as entranhas do que corria no submundo do governo do partido alçado ao poder, em 2002-2003, para moralizar a vida pública nacional.
Caso Roberto Jefferson, um dos mais destacados soldados de Fernando Collor de Melo, no início dos anos 1990, não pusesse a boca no trombone, denunciando a roubalheira do governo Lula, certamente não seria Dilma Rousseff a Presidente da República eleita em 2010, mas José Dirceu, escolhido por Lula, em 2003, como o capitão do time.
De 2003 a 2005, José Dirceu dominou o governo de Lula e tinha Presidente na mão, sendo possivelmente o candidato à sua sucessão.
E passaria como um trator sobre quem se pusesse à sua frente.
Com dinheiro sobrando e com os maiores especialistas de marketing à sua disposição, com o Congresso Nacional no seu bolso e com Lula com mais de 80% de popularidade animando a massa, José Dirceu provavelmente atropelaria qualquer adversário que atravessasse o seu caminho, ainda mais os hesitantes tucanos, então os maiores opositores do governo petista.
Coube a Roberto Jefferson atravessar o caminho de José Dirceu e lançá-lo na lama. A ele e ao PT.
Também coube a ele criar o termo mensalão, para se referir à mesada – que não era exatamente mensal – que o governo distribuía a muitos de seus apoiadores no Parlamento.
Inteligente, frio, organizado e combativo, José Dirceu usava e abusava de quem estava em seu entorno, até mesmo do iletrado e desonesto Lula, um astuto manipulador de pessoas.
Caso Dirceu subisse a rampa do Palácio do Planalto em 2011, certamente a história do Brasil teria sido outra, dada a maior competência política dele e o seu veio muito mais autoritário.
Roberto Jefferson é um escroque, mas o Brasil tem motivos de sobra para tê-lo como alguém que nos livrou de mal maior, como ele mesmo chegou a dizer: “Eu salvei o Brasil do Zé Dirceu”.
Ainda falta alguém fazer uma análise apurada sobre o maior escândalo da política brasileira antes do petrolão, mas é possível apontar que ele nasceu do confronto pessoal entre Dirceu e Jefferson.
Com “vitória” do segundo.
Para gáudio do Brasil.