Lula e o “descobrimento” do Brasil – Parte 1
Vou dividir em dois o texto sobre o “descobrimento” do Brasil por Lula.
Um hoje; outro, sexta.
A cada quatro anos, nas eleições presidenciais, deparamo-nos com homens providenciais, encarregados, por eles mesmos e por seus marqueteiros, de descobrir e/ou (re)construir, do zero, o Brasil.
O mais aguardado, nos dias que seguem, é Ciro Gomes, proclamado por alguns dos nossos progressistas e por ele mesmo como uma espécie de neo-Messias.
Ciro Gomes cita estatísticas mentirosas e ensinamentos sobre economia que faria corar, de vergonha, um primeiranista de Estatística e de Economia. Ciro é um inventor, que, como me disse um antigo professor, começa com “I” de insuficiente e termina como “R” de regular, sem jamais chegar a MB de muito bom.
Ao longo de nossa história recente Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Tancredo Neves e Fernando Collor já puseram as vestes messiânicas. Tancredo, mesmo sem ter a pretensão de sê-lo, foi visto por parcela significativa da sociedade como tal, afinal tornou-se o timoneiro da nau que faria a travessia entre o regime autoritário e a esperança de uma nova democracia.
Jânio e Collor foram os mais estridentes, mais desajuizados e mais incompetentes.
Entre todos, porém, o que mais levou a sério a unção foi Lula da Silva. O seu “Nunca antes na história deste país…” (que já foi título de livro) exprimia a crença dele e dos seus áulicos numa espécie de destino manifesto lulista.
Lula passou os oito anos de seu mandato se gabando de ser o autor das maiores e mais firmes transformações pelas quais o Brasil passou. De lá para cá, findo o seu mandato, sempre que pode repete para si mesmo e para os chaleiras que o cercam, para a imprensa e para todos os amestrados a mesma cantilena, samba de uma nota só.
Chegou a dizer, quando inaugurava uma obra na Bahia, em 2010, que o Brasil, com ele, estava mudando “e isso incomodava muita gente.”
Para não perder a chance de bajular o líder, Jacques Wagner, então governador baiano, afirmou, quando do lançamento do PAC 2 que “Lula estava refundando Brasil” e Dilma, pré-candidata a presidente da república, emendou ser “este o Brasil que Lula recuperou para nós e que os brasileiros não deixarão escapar de suas mãos.”
Mudanças como a que dizia pilotar e que Jacques Wagner, Dilma e outros confirmavam como sendo obra do líder petista não ocorrem em curto prazo. Só os menos avisados hão de concordar que o pernambucano de Garanhuns é, sozinho, o dínamo da história recente do Brasil, porquanto o país não ter sido descoberto por ele em 2003, ano em que assumiu a Presidência da República.
A maneira como Lula gostava – e ainda gosta – de incensar seus feitos deslustram, quando não macula, os seus antecessores.
Houve lideranças políticas no Brasil muito mais efetivas do que Lula. A história, a quem cabe indicar o lugar que os atores sociais ocupam, dirá qual será posição de Lula. Ele é, como alguns que o antecederam, apenas um dente na engrenagem que faz o país rodar.
Poderia ter passado para a história do Brasil como o Presidente que manteve os fundamentos da política econômica herdada dos tucanos e pela recusa em patrocinar uma emenda constitucional que lhe permitiria concorrer a um terceiro mandato.
Porém, o ex-Presidente corre o risco de ver o seu nome inscrito na história por episódios menos nobres.