Marçal-besteirol, é Casseta e é Pirata

por Sérgio Trindade foi publicado em 05.set.24

Tem gerado polêmica a atuação do candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal, pelo jeito cínico e debochado com o qual tem se apresentado diante das câmeras.

Marçal saiu de 7% para 21% pontos percentuais batendo nos seus oponentes durante os debates e em jornalistas nos programas de entrevistas e nos debates.

Há muitos motivos para Pablo Marçal subir em ritmo forte na disputa pela prefeitura paulistana. Especialistas dizem que ele encarna Jair Bolsonaro, o outsider do pleito presidencial de 2018.

É inegável que Marçal capturou parte do eleitorado de Bolsonaro, mas há um erro na análise: o ex-capitão do exército nunca foi, apesar de assim se apresentar, um outsider. Bolsonaro sempre foi um homem do sistema, do qual sempre esteve à sombra, recolhendo alguns despojos, enquanto Marçal é, de fato, um outsider. Além disso, Marçal é articulado, ainda que apresente propostas superficiais e inexequíveis (quando as apresenta), frio e calculista – traços que Bolsonaro nunca teve.

Assisti a quase todos os debates e a algumas das entrevistas do novo fenômeno político e eleitoral brasileiro – sim brasileiro, afinal a posição que ocupa no pleito paulistano o alça à liderança de envergadura nacional. E em todos eles, Marçal teve uma postura que agrega dois elementos cruciais responsáveis por alavancarem o seu desempenho: bate e escracha os políticos tradicionais e faz uma espécie de humor besteirol, ao estilo TV Pirata e Casseta e Planeta.

Os políticos são rejeitados pela população no mundo todo. São alvos de desconfiança e descrédito. No Brasil não é diferente, como registra recente pesquisa feita pela Atlas Intel (https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/ricardo-noblat/o-politico-mais-rejeitado-pelos-brasileiros-e-quem-vem-logo-depois).

Como rejeitam os políticos e não se sentem por eles representados, conforme demonstra o Instituto Ipsos (https://www.gazetadopovo.com.br/politica/republica/voce-nao-se-sente-representado-pelos-politicos-94-dos-brasileiros-tambem-nao-d8f1fhygqscs6qwg2m0sg0mcz/), o brasileiro comum vibra quando os encontra em situações vexatórias. E é justamente este espírito que Pablo Marçal percebeu e absorveu.

O candidato do PRTB vai aos debates e dá entrevistas satirizando e zoando os seus adversários (chama Boulos de Boules, ironizando a linguagem neutra defendida por setores de esquerda ligados ao grupo do psolista; a deputada federal Tabata, candidata do PSB, recebeu a apelido de Chatabata; e o apresentador Datena, a alcunha de Dapena).

Ouço e leio que muitos eleitores assistem aos debates e às entrevistas de Marçal para se divertir com o tratamento por ele dispensado aos políticos tradicionais – aqueles que se apresentam como sérios e assaltos, por “n” artifícios a carteira do contribuinte, é assim que no geral são vistas nossas lideranças políticas. O eleitor vibra porque Marçal diz o que ele gostaria de dizer.

Marçal escracha os seus adversários e alguns dos seus apoiadores e mesmo jornalistas.

Quem não se lembra dos quadros da TV Pirata, sucesso nos anos 1980-1990, e de Casseta e Planeta, nos anos 1990-2000?

Os dois programas, ambos da TV Globo, faziam humor no estilo besteirol: escrachado e satírico, com piadas controversas e muitas paródias.

TV Pirata tinha quadros como As Presidiárias, em que Cláudia Raia fazia a personagem Tonhão, uma paródia da novela Roda de Fogo chamada Fogo no Rabo, na qual brilhou o inesquecível Barbosa, ao qual Ney Latorraca deu vida e, ainda, a engraçadíssima TV Macho, com Guilherme Karam no papel do apresentador Zeca Bordoada. O programa fazia troça com a programação da própria Globo, como foi o caso do Milionário Esperança, paródia do Criança Esperança.

Casseta e Planeta navegou nas mesmas águas. Fez paródias de várias novelas da emissora: O Rei Drogado (O Rei do Gado), Por Favor (Por Amor), Torre de Papel (Torre de Babel), Suado Moreno (Suave Veneno), entre outras. O presidente Fernando Henrique Cardoso foi alvo da verve do grupo e virou Viajando Henrique Cardoso e Ficando Henrique Nervoso; Ana Maria Braga (Anã Braga), Galvão Bueno (Gavião Bueno) e Ronaldo Fenônemo (Fofômeno) foram troçados por anos a fio.

É o que faz Pablo Marçal. O seu estilo cria a política besteirol, aquela que não enche o saco e faz rir. E o estilo tem se convertido em intenções de voto. Nos debates e nos programas de entrevistas, o candidato graceja como se estivesse participando de uma esquete de programa de humorístico besteirol. Se repelido, segue gracejando e, se a resistência aumentar o tom, parte para bordoadas.

A saber mais à frente é, se eleito o candidato seguirá tornando a política um lugar de escracho e de ridículo ou se pretende pôr novas vestes, a de homem presumidamente sério e circunspecto, formato dos homens públicos que conduzem os destino de milhões.

posts relacionados
Logo do blog 'a história em detalhes'
por Sérgio Trindade
logo da agencia web escolar