Política e violência
Desde ontem, as televisões brasileiras só têm, praticamente, espaço para a tentativa de assassinato do ex-Presidente e atual candidato à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump.
Houve manchetes nos jornais brasileiros (“Trump caiu durante comício”) que beiraram o absurdo. Internautas comparam o tiro que atingiu o atual candidato do Partido Republicano à facada no então candidato a Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em 2018.
O deputado federal André Janones, recentemente salvo por Guilherme Boulos e aliados da acusação de praticar rachadinha, postou que “Pelo menos dessa vez lembraram de providenciar o ‘sangue’”, numa referência ao fato, corrente entre os opositores mais ferrenhos de Bolsonaro, de que então candidato à Presidência do Brasil não sangrou quando foi esfaqueado. Não é, num rápido passeio pelas redes sociais, uma postura incomum. Famosos e anônimos dizem abertamente o que escreveu Janones.
A tibieza e o mau-caratismo não têm lado político. Vão da direita à esquerda.
No geral, as pessoas sensatas falaram e escreveram contra o radicalismo político que traga a vida pública no mundo todo e foram solidários ao ex-Presidente Trump.
Política e violência quase sempre andaram de mãos dadas. E não me refiro à política dos rincões.
Foram muitos os atentados políticos, no Brasil e nos Estados Unidos, ao longo dos anos.
Em novembro de 1897, o Presidente Prudente de Morais foi atacado pelo soldado Marcelino Miranda, quando participava da recepção aos militares que retornavam da Guerra de Canudos, na Bahia. Na ocasião foi morto o Ministro da Guerra, Marechal Carlos Bittencourt, o qual pôs o corpo entre o Presidente e o assassino e terminou apunhalado. Investigações demonstraram que Marcelino Miranda agira a mando de adversários políticos de Prudente de Morais.
Dezoito anos depois, o senador gaúcho Pinheiro Machado foi apunhalado, em frente ao hotel onde morava no Rio de Janeiro, pelo jovem Manso de Paiva. O senador era, então, uma espécie de condestável da república brasileira e um presidenciável desde o início do século XX. O assassino, em depoimento prestado à imprensa em 1965, afirmou que o seu ato foi movido por paixão política.
Em 1930, o governador da Paraíba, João Pessoa, foi assassinado por João Dantas na Confeitaria Glória, em Recife, quando o Brasil vivia quadro de radicalização e instabilidade política. O crime nada teve com política; João Dantas foi movido por vingança, por ver sua intimidade exposta no jornal controlado pela família de João Pessoa.
O Presidente Getúlio Vargas sofreu um sem-número de tentativas de assassinato.
Em 1967, o então Ministro da Guerra do governo Castello Branco, Costa e Silva, foi alvo de um atentado a bomba no aeroporto Guararapes, em Recife.
Nos Estados Unidos, quatro Presidentes da República foram assassinados: 1) Em 1865, o Presidente Abraham Lincoln foi assassinato pelo ator John Wilkes Booth, enquanto assistia, com a sua esposa e um casal de amigos, a uma peça teatral; 2) Em 1881, James Garfield, após ser alvejado por dois tiros desferidos pelo advogado Charles Jules Guiteau, na estação de trem de Washington, morreu, depois de oitenta dias, de infecção e hemorragia interna; 3) William McKinley morreu em 1901, vítima de ferimentos a bala infligidos pelo jovem anarquista Leon Czolgosz, quando o Presidente estava cumprimentado pessoas na fila da Exposição Panamericana, em Buffalo, estado de Nova Iorque; 4) O Presidente John Kennedy foi assassinado por Lee Osvald, em Dallas, em novembro de 1963, quando desfilava em carro aberto na cidade texana. Cinco anos depois, o irmão de John, Robert (Bob), foi assassinado quando concorria à indicação presidencial do Partido Democrata.
Dois Roosevelt, Ted e Franklin, também foram alvo de assassinos. Ted foi ferido quando concorria à Casa Branca, em 1912. Franklin não foi atingido, mas o prefeito de Chicago, que fazia parte da comitiva, tombou.
Gerald Ford, que assumiu a Presidência dos Estados Unidos após a renúncia de Richard Nixon, escapou sem ferimentos de duas tentativas de assassinado em 1975. Ronald Reagan não morreu após ser atingido, em 1981, por um dos tiros dados por John Hinckley, mas ficou doze dias internado; outras três pessoas foram atingidas pelos disparos.