Wokismo

por Sérgio Trindade foi publicado em 09.set.24

Fico agoniado com a postura não-me-toque de cada vez mais gente.

É cada vez mais necessário ter cuidado com o que falamos, como olhamos, que expressões fazemos, etc, porque os extremos que se combatem travam a luta com a mesmo postura ultra-sensível que denunciam no oponente.

Em um dia, a esquerda critica Emílio Surita por uma imitação. No outro, celebra com entusiasmo a representação da Santa Ceia encenada por drag queens.

Agora, invertamos as posições: em um dia, a direita aplaude Surita pela mesma imitação; no outro, se ofende com a encenação da Santa Ceia feita por drag queens.

Esses grupos podem não ser “farinha do mesmo saco”, mas certamente saem do mesmo moinho.

Existe algo mais woke do que a indignação diante do suposto show woke na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, em Paris?

O que é sagrado, para os cristãos, não é a pintura em si, apenas uma representação artística entre muitas outra. O que é verdadeiramente sagrado é a Santa Ceia em si, o evento histórico, tão bem retratado por Leonardo da Vinci, a mais bela e famosa entre todas as representações. E justamente por ter representado essa cena com técnica, respeito e maestria, a pintura não só se tornou conhecida entre os cristãos, mas também admirada por ateus e seguidores de outras religiões.

Os Jogos Olímpicos nasceram com o ideal de confraternização. Se o objetivo é preservar esse princípio, teria sido melhor evitar provocações e controvérsias desnecessárias. Como disse a colunista da Folha de São Paulo, Lygia Maria: “Atacar um cristianismo secularizado é fácil. Quero ver atacarem Maomé. Até já o fizeram, e foram mortos num atentado por radicais, como dizia Paulo Francis.”

A minha hipótese é que identitários de esquerda e direita se alimentam mutuamente nessa dança entre provocação e vitimização.

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