Pelé, o deus mortal

por Sérgio Trindade foi publicado em 11.dez.17

Há duas semanas, no palco do sorteio dos jogos da Copa do Mundo, estava lá, Ele, de cadeira de rodas.

No Brasil, misturamos Pelé e Édson. Ele sempre os separou. O mundo todo os separa. Sim, porque Pelé, o atleta, é divino; Édson é humano demais, cheio de defeitos.

Pelé sempre foi maior, muito maior do que o homem Edson Arantes do Nascimento. Foi uma das primeiras personalidades globais do século XX.

O que o Brasil tem de boa imagem lá fora deve, em grande medida, ao futebol, e ao futebol a partir de 1958, quando Ele debutou para o mundo. Por isso mesmo, Pelé deu sentido à palavra “brasileiro” em todos os quadrantes do mundo.

Contribuiu de forma decisiva para a construção de identidade brasileira, ao lado de Garrincha criou uma escola de futebol que era (talvez ainda seja) reverenciada em todos os cantos do planeta. E isso, amigos, não é pouco.

Ver Pelé, o bailarino velocista, vivendo a velhice que chega para todos nós, doeu demais. Eu mesmo nunca consegui, até por esses dias, ver ou sentir o fim do rei, do “deus de todos os estádios”, na feliz definição de Jorge Cúri ao narrar o primeiro dos gols do Brasil, feito por Pelé, na goleada final contra a Itália, na Copa do Mundo de 1970.

Tite, que é sem favor o melhor treinador do Brasil na última década e meia, subiu mais ainda no meu conceito.

O atual treinador da seleção brasileira disse que fez questão de abraçar Pelé, durante o sorteio das chaves pra copa do mundo, e agradecê-lo por ser brasileiro. E completou: “Pelé é de outra dimensão”.

Concordo com Tite. Pelé é um ser superior. Mesmo numa cadeira de rodas exala majestade.

O maior atleta do século XX envelheceu e, estou pasmo (!), é mortal. Aquele ser humano que fez coisas magistrais correndo, anda sentado numa cadeira de rodas, sendo conduzido pra cima e pra baixo por terceiros. Um dos maiores brasileiros de todos os tempos e um dos grandes ícones globais do século XX, o gênio da percepção, da sensibilidade e do improviso, tão superior a todos os demais que chocava, ainda está entre nós.

Que siga assim por muito tempo.

Abandonemos a mania de o maldizê-lo. Aproveitemos para venerá-lo.

 

Por Sérgio Trindade

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